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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

Tróia

Agosto 10, 2016

A Maria João de Sousa Brito

 

Quem nunca procurou a paz num vinho ardente

Com suas memórias ígneas, amadeiradas?

Procuro, não no vinho, mas em mim, demente

Uma alma sossegada entre almas transtornadas.

 

No sábado passado, azul raro, vibrante

No ferry boat seguia a esteira, alvos cavalos

Que a branca espuma faz o mar ser um espumante

Que bebemos festivos, aos pulos, aos saltos

 

Pura desilusão, confesso, pois buscava

Golfinhos saltitantes que há muito partiram

Em busca de sossego como eu procurava

Poemas cujos versos nunca se repetiam.

 

O sol na areia dava a impressão de sermos

Vulneráveis papéis que servem de alimento

Ao fogo, esse demónio à solta que metemos

Nas verdes florestas do nosso pensamento.

 

Aquela língua branca a desafiar o mar

Não era como os sonhos loucos dos humanos

Anseios vacilantes, no ar a latejar

E que nos guiam sempre ao ponto a que chegamos.

 

E eis (lá está) que chega a fome melancólica

Desse infindo desejo, fútil, impossível,

De sermos novamente jovens e, bucólica

Ser a paisagem verde, vinhas do possível.

 

De súbito, arrepio na espinha a expandir-se

Lembrei-me ser durável, ter que ter coragem

(Mas de volta ao real) era o meu filho a rir-se

Como água a extinguir o fogo da voragem

 

Como um poema longo, épico, interrompido

Fui perseguido pelas ânsias, mágoas, dúvidas

E remontava ao tempo desse grego Antigo

Que colocava freio a vidas compulsivas.

 

E de repente, Tróia, a amargurar-me o espírito

Ulisses de calções de banho, toalha aos ombros

Helena em bikini, águia de Zeus aos gritos

Essa bela cultura grega agora em escombros.

 

Deixava atrás de mim um rasto purpurino

De todas as lições de vida que aprendi

Porque sou um mistério raro, diamantino

Com o cruel destino sempre atrás de mim.

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