Poema apagado
Setembro 14, 2021
Somos frágeis, estamos todos
metidos na nevrálgica incubadora
de notícias trágicas que nos chegam
do mundo desconhecido
gente que definha de fome
enquanto rebentamos de comida
gente afogada em dilúvios bíblicos
depois do relaxante duche vespertino
há um programa de reeducação em curso
obrigam-nos a usar máscara e tédio
o fascínio elástico imperativo
na agenda escreve-se o petisco do ódio
a solução é diluír-nos
num copo de mar primeiro azul
depois virá o crude e assim alteram-nos
a composição química do peixe
ainda não declarámos insolvência
no restante tempo, afinal
não falta muito para ir-se à Lua
dizer adeus ao planeta terra
há feiras do livro e das vaidades
intransigências poucas, suicídios vários
sem bilhetes escritos de despedida
da existência caótica e frenética
há cada vez mais gente que escreve
declarações de independência
individuais, a irreverência
de deixar-se o poema resolvido
caiu-me das mãos a jarra de cristal
da perfeição das coisas, via-se
no chão um corpo estilhaçado
do passado feito em cacos
ponho moeda no parquímetro
tiro bilhete para prolongar-me os anos
desperto e estacionado
no parque da feira desta vida