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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

Negros anos

Agosto 23, 2016

Chamavam-me vampiro, Drácula, coveiro

A palidez mortal do rosto era doentia

Vestia-me de sombra negra, desordeiro

Escondia-me do sol. À noite, é que vivia.

 

A minha juventude foi de romantismo.

Para os que sabem bem o que isto significa

O amor revestia-se de puro misticismo

Eu era um alvo fácil para a dura crítica.

 

Os livros de olhos felinos me seduziam

Que abertos, ampliam espíritos fechados

Nas horas do tédio, os livros reduziam

Aquela amargura aos mais inadaptados.

 

Ergui meu El Dorado, papéis manuscritos

Jardins de metáforas floresciam no rosto

Era amante da Lua, rainha dos malditos

Seguidor da Beleza, o Sol era o desgosto

 

Poético era o sangue em fluxos irreais

Meus sonhos infundados não traziam lucro

Seguia, atentamente, os gatos nos beirais

Das janelas, que miavam: “Este, está maluco”

 

De amores, as mulheres, meu jardim calcaram

Os roseirais quebrados, lírios adoeciam

Unânimes, cruéis Erínias me assaltavam

Os nervos de violino, e cedo, enfim, partiam

 

A música era esposa, amante, a poesia

Amigos, eram anjos lúcidos no mundo

Sofriam ver-me triste, vago à luz do dia

Como se, inutilmente, fosse um vagabundo

 

Como campo em ruínas, selvagem, inculto

Ardia tudo à volta no meu coração

Fui Nero e própria Roma antiga onde fiz culto

Do fogo posto em mim, fui criminosa mão.

 

Ó poema agrilhoado, no alto da montanha

Sou Prometeu bicado pela águia de Zeus

Por mais que este castigo seja coisa estranha

Estes intempestivos anos foram meus

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