Na casa antiga
Setembro 04, 2021
O relógio de parede da cozinha
parava mal humorado
nem pilha ou palha o burro
nunca dava as horas que eu queria
naquela casa era sempre tarde
mesmo quando ainda era cedo
o ar fabril fazia-me mal
tornava-me lúcido com dores de cabeça
éramos felizes e não sabíamos
o volte face de dezassete anos
encontramos uma pá e escavamos
um buraco fundo de saudade.
éramos tímidos mas príncipes
belas criaturas alheias
às fantasias que inventavam
sobre nós criaturas terríveis
e deste lado curvo-me na distância
oiço ao longe o ladrar do cão
no escrínio antigo guardava
poemas escritos com gritos de séculos
sou capitão do barco deste corpo
prometido à terra desde que nasci
generosa ainda não reclamou
o voucher que lhe pertenço
incógnito sinónimo de anónimo
não fui a tempo tornar-me mestre
mestre na sina ser poeta
guia turístico do meu destino.
tenho pensado no rodopio
do infinito, pião que gira no
chão do universo pune-me
esta esfera mágica de tão bela