Em sentido inverso
Agosto 26, 2021
Não quererei ver a alegria contra a parede
a ser algemada por crimes que não cometeu
a lógica tomou um comprimido para dormir
flutua num sonho de máscara e seringas
tudo é a 50 por cento, filtra-se o cheiro
de pinheiros no verão quando se banham
ao sol e ao fogo, este a 200 por cento
vai alastrando, querem-no desconfinado
se ao menos vivesse para sempre
andaria na terra para ver a mentira de hoje
porque a verdade será encontrada por
arqueólogos e proscritos numa vala comum
atiram-se boias e gibóias em simultâneo
emigra-se a caminho da nova escravatura
agora vendem-se nas bancas digitais
fábulas verdadeiras de alienígenas
vai-se caminhando, teme-se o pior
viajei para longe, fui até ao pátio
espretira se o sol era igual e senti frio
ando ao contrário do aquecimento global
na roda da mundo a mão insana que a gira
a mão que domina o sentido dos ponteiros
o céu não tirou o capacete azul e as nuvens
são farrapos de um velhinha sem reforma
vai-se agarrando as regalias pelos cabelos
o ódio solta-se num simulacro mudo
pensar descabido julgarmos que
o senhor do mundo é bilionário
mas o senhor do mundo é o Tempo esse
levanta as saias à justiça e
beijando na boca as memórias antigas sem
fazer barulho, rato que progride
a serpente voltou a entrar no paraíso
vivemos num circo histérico estéril
ficando numa fila, pensava que ficaríamos
no eterno à espera de sermos atendidos
Não desfaças já as malas, Eduardo é possível
que o tempo de usar cabeleira e terror volte
há novas bases de dados e há dádivas novas
pelo sim pelo não apaga as luzes de presença