As cidades
Outubro 14, 2021
Não queria entrar na repartição dos sonhos
dormir é morrer conscientemente
um fósforo rasgado de luz efervescente
na noite eterna dura pouco como nós
não dormimos o sono que desejámos
premimos botões errados no desconhecido
escrevemos cartas brancas sem memória
Encripta-se logo solilóquios de loucos
as ideias dão-se à manivela, amassa-se
o pensar, desistir é destrutivo, impreme-se
a ideia de sermos luminosos poetas
as cidades que sonhámos nunca irão erguer-se
chegarei a ver o rutilante templo
pinturas de crepúsculos no céu pela janela
não dou ao verso aquela palha
a manilha não é certa como um ás
não quero dormir no colchão do tempo
cheio de pulgas e remorsos, durmo de dia
na folha de alumínio ao sol de um poema
babuíno saído da árvore do pensamento