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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

O Clube

Junho 22, 2021

Estou cercado de demónios vigilantes
seguem-me os passos leves estimam onde vou
ignoram o que cozinho no tacho da mente
que o falcão peregrino do sonho voou

rodeiam-me as árvores verdes que oscilam
entre o vento do Norte e o vento do Sul
há homens locomotivas que descarrilam
sob o céu impassível indiferente azul

a garrafa de água continha no plástico
rótulos de sedas de mensagens proibidas
o mundo abraça-me, parece fantástico
mas a morte sinistra brinca às escondidas

rodeado de tédio remorso e solidão
é inútil pensar-se na mudança de rumo
sabes a carícia que doma o coração
mas nunca provarás de mim amargo sumo

somos descartáveis para a causa do tempo
o tampo desta mesa é gasto nos labores
mesmo arranhas céus de cor de um céu Dezembro
serão derrubados por ocultos favores

Sepulto-me em papel no verso a tinta preta
Progride, sem que atinja os altos cumes brancos
A bússola avariada guia-me à deserta
Montanha onde existem gigantescos bancos

no início do verão processam-se soturnos
sentidos latejantes de típicos vagares
sou réptil rastejando num pulsar nocturno
sou estéril no sentir das coisas salutares

nasci para estar fora de elevados círculos
a minha maldição é amar as coisas belas
sou sócio no clube só de seres ridículos
que buscam a Beleza sem lhes porem trela

 

Nome e morada da infância

Junho 16, 2021

Eram iguais a estas sombras
de verdes e castanhos escurecidos
no lugar onde viviam os meus avós
de luz do sol esclarecida
violentamente nítida

lembro-me quando era miúdo
dava conta da geometria das sombras
e dos ruídos que os pássaros faziam

perto da casa dos meus avós
vivia a Ivone na casa dos seus.
os pais dela iam buscá-la nos
fins de semana. Gostava tanto dela
que assistia da janela a ir-se embora

triste por ficar sozinho
suspenso num sonho poético.

ainda hoje a procuro quando lá vou
olho sempre para ver se a vejo.
mas já lá não está, nem o primo dela
nem os avós
nunca mais a vi
nem ninguém conhecido

Ivone é o nome da minha infância
e a morada a rua onde os meus avós viviam
basta sentir a frescura das sombras

dos plátanos, choupos e oliveiras
o cheiro verde da relva cortada
o murmurar das águas, das chuvas
do uivar do vento nas janelas
vencido pela saudade de visitar a rua
onde os meus avós moravam
onde ainda moro no coração

 

O mendigo

Junho 13, 2021

O pobre homem de barbas brancas em balbúrdia 
pediu ao balcão do vício um copo de vinho
que lhe abrisse a pestana de manhã, disse ele
esbugalhando os olhos tristes, tortos
pupilas baças em ruínas
o borrão do cigarro brilhava mais
não estava ali para fazer perguntas
decidido como se a miséria e a imundície

lhe dessem força no braço de ferro
entre ele e o martírio do tempo

sentado era uma ilha na cadeira velha

se alguém se aproximasse logo estremecia
não de medo nem de frio nem de raiva
mas como folha caduca no início do outono
diria um urso que descesse a encosta
e viesse da caverna fria
parecia doente, corpo e mente
tossia tanto, tossia tossia
parecia bicho frágil a recolher-se do mundo
esbarrando com a cabeça na realidade
sem identidade não dando
contas a ninguém, amealhava invernos
e noites sem riso sem luar, escavava túneis
dentro de si e dos outros com perguntas
quem seria, o que teria feito, acontecido
e num redemoinho de vento outonal
a minha poesia desvalorizou
rasguei o papel e fui-me embora

que teria feito que valesse
a pena pesando-lhe

 

Camões

Junho 10, 2021

Define-se a grandeza do poeta
Dos céus por onde o engenho seu andou
Camões pela beleza que sonhou
Tornou-se pela língua o predilecto

Imenso amor por sua pátria amada
Que noutros tempos pátria tinha altura
Deu-lhe sangue e suor, desenvoltura
Atinge a fama nunca antes sonhada.

Camões que de alcançá-lo é impossível
A menos que o tremendo amor que tem
O poeta ultrapassá-lo conseguisse

Camões fez o impossível ser possível
Fazendo com que a língua fosse mãe
que o mundo português falado ouvisse

Português, um idioma

Junho 09, 2021

Tem sons do mar que sabe a sal, sabe a saudade
que floresceu seguindo o céu olhando o mar
na pronúncia consegue acordes tão suaves
tem ritmos de caravelas a navegar

desses seis filhos tão notáveis do latim
nascia o mais simples o mais distinto a falar
visitamos países distantes no fim
ouvimos português com vontade de chorar.

Maleável polifónico musical
sem esquadrias e métricas rasgadas
tem qualquer coisa de língua sentimental
faz com que as pessoas se sintam amadas

 

Sobre a medicina

Junho 09, 2021

E assim heróis se fazem mansos mudos
Incrível, já não creio em quase nada
Fez-me a loucura avessa uma emboscada
A argumentação de tudo com estudos

Comprovem que esses estudos foram feitos
É um conceito muito americano
Há uns tempos o livro de São Cipriano
Servia facilmente estes conceitos.

Todavia temos dores de barriga
Os médicos só receitam comprimidos
Para maleitas dolorosas infinitas

Foi sempre abrigo amigo a medicina
Mas andam para aí uns desconhecidos
Que nos falam de vacinas como fajitas

Sobre a desumanização

Junho 09, 2021

Esse amor de rosas e champanhe
De dúvidas de dádivas de dívidas
O amor televisivo de rebanho
Oxida o aço duro às nossas vidas

ocultos mentirosos compulsivos
Compram jornais ricos sensacionais
Mudam-nos os processos cognitivos
desumanizam-nos os animais

Tentei que a tolerância em vão viesse
Não se confundam deuses com sucesso
Erro endeusar-se alguém de carne e osso

Quis que o bom senso perto aqui estivesse
Mas só chegou-me o bálsamo do verso
Que mãos cruéis nos esganam o pescoço?

A rapariga que pedia mais cerveja

Junho 07, 2021

a adolescente embriagada rastejante
na sua mão o copo de plástico vazio
com voz de brisa leve tímida pediu
que lhe vendessem mais cerveja refrescante

voltava copo cheio ao círculo de amigos
pedia por tabaco, haxixe, o que lhe dessem
como corça pedindo aos lobos que a comessem
exibia os seios como o alvo ao inimigo

de súbito subiu-me a náusea entristeci
como se desejasse não sentir mais nada
ficasse ali no chão um réptil que rasteja

tão fresca primavera como nunca vi
trazia o equilíbrio de sereia encalhada
a rapariga que pedia mais cerveja

A rapariga que pedia cerveja

Junho 07, 2021

A palidez mortal retrato da inocência
a brancura da pele das estátuas antigas
dois olhos imploravam verdes por clemência
que lhe vendessem cerveja a ela e aos amigos

diria uma flor a desabrochar na vida
os amigos faziam-lhe círculos e riam
com fósforos acesos no olhos de vício
diziam com olhares ébrios que a fodiam

esvaziava e enchia o copo de plástico
nos dedos segurava o odorífero cigarro
saindo-lhe dos lábios virginais o fumo

havia qualquer coisa nela tão errático
como perdida não soubesse a que se agarra
se à alegre juventude, se à noite sem rumo

 

O maior predador

Junho 04, 2021

IMG_20210117_173557.jpg

Meu espírito descia na audácia das aves
rente às águas quietas do rio se têm fome
escrevia no lodo acrobático meu nome
Para lembrar, quando descesse às escuras caves

não cairei na escada que escrevo poesia
por não saber se é poesia o que escrevo
fui abatido a tiro como esquivo cervo
de longe olhava o rosto que de mim se ria.

o rosto era do Tempo, incansável predador
medidor feroz com mandíbulas de hiena
chegará inevitável o último suspiro

olha a fotografia, é o tempo, meu amor
que as mágoas e remorsos não valem a pena
foi de raspão, temos tempo, ainda respiro

 

Pessoas ainda mais

Junho 02, 2021

IMG_20210526_214518.jpg

sou cúmplice com mais 7 biliões
nessa energia primitiva e rara
sangremos juntos como Mirmidões
dando início à íngreme escalada
pedindo por clemência à azul excelência
os vermes falam no inédito comício
vejo-os nesse crime incontinente
cegos nos guiam ao mar do suicídio
aos que multicolores se abraçavam
inspiram-me esse amor sincero e livre
desprezo essa ambição viver em Marte
por ser desprezo por todo o ser vivo
cravo os meus dentes no pescoço da Arte
por dar sentido à falta de sentido

Outra vez pessoas

Junho 01, 2021

IMG_20210601_141949.jpg

São como nesta selva os animais
desde a formiga, a águia, o tigre, a cobra
que uma pessoa noutra se desdobra
raros diamantes brilham especiais

uns primam p'la tranquila inteligência
uns pela catastrófica estupidez
uns à sombra da árvore sensatez
uns queimam-se ao sol da falsa aparência.

uns loucos, mentirosos compulsivos
melancólicos complexos, uns festivos
os rostos que por mim tantos passaram

lembro os que me inscreveram na memória
Como um poema um autógrafo uma história
mesmo os que nunca de mim se lembraram

A teia

Maio 29, 2021

A teia pegajosa da medicina
A teia invisível financeira
A teia de atear-se fogo à madeira
A teia entre Israel e Palestina

A teia da sinistra tecnologia
A teia embrionária do arquitecto
A teia do ser branco ou do ser preto
A teia que intrincaram dia a dia.

E quanto mais se fala mais se oculta
E quanto mais se esconde mais ataca
E quanto mais se enreda mais adulta

E quanto mais se ignora mais expansiva
E quanto mais se encobre mais opaca
Se vai espalhando a treva em morte activa

 

Soneto "O Delícia"

Maio 27, 2021

Existe em Moscavide um restaurante
onde se come bem e a qualidade
supera os outros sítios na verdade
com simpatia servem num instante

na ementa há muito por onde escolher
no peixe, há arroz de polvo, bacalhau
há robalo, sardinhas, carapau
chocos com tinta lulas se quiser

na carne há bitoque, há bife à casa
há toda a chicha que se põe na brasa
regado com bom vinho (ai a Polícia)

há uma lista infindável de petiscos
peixe fresco, carne tenra, bons mariscos
o restaurante chama-se ‘O Delícia’

 

poema erótico herético

Maio 26, 2021

meticuloso meti guloso
melodioso dúctil
afinal o jogo do berlinde
era o estágio
mexíamos e escavávamos
a terra toda como bichos
até que caíssemos de cansaço

que bom que era
tão bom agora
no Ágora


medíamos perímetros
de circunferências
não gostava muito
agora gosto
gosto gasto gosto
o teu olho húmido
do Grande Irmão
entreabre-se
olha-me e
molha-me

comer uma ostra é beijar
o mar no centro
do sexo feminino
fazíamos ginástica
vazia imagina
cuida se os dentes
da serpente enterrados

na terra brotam
um carvalho forte
tira-me o v da roupa
e com a boca
vais ver

 

como um lugar comum

Maio 26, 2021

IMG_20210525_225202.jpg

como um lugar comum ergue-se a lua
há luar no quarto e devaneios imprecisos

é preciso abrir-se o diamante ao meio
colocá-lo no veludo rosa húmido
para sabermos quão genuíno e pertinaz
nos servirá e evoluirá o poema.
todas as religiões desprezam a mulher
por temerem-na, sabem que reúnem lares
conhecem os segredos dos deuses
e congratulam homens sem sacrifícios a
poderes invisíveis de cios das oficinas
gerais de filosofias utópicas e indecisas
porque o problema apresenta-se límpido
nítido não fossem as rotinas do mundo
serem contrárias ao movimento clássico
e fatídico do universo dos vulcões
das montanhas das oliveiras cujos troncos
parecem pescoços com tumores malignos
e sobretudo das florestas de decoro feminino.
calo-me moído pela pedra gigante da
subjectividade desta vida. Invocaram hoje
a grande recusa, mas será possível
a uma mosca ou mosquito demolirem
muralhas erguidas com mãos de
gigantes artífices de pedra? Como poderei
saber se a minha poesia é um bilhete de avião
que se despenhará num abismo? Que sei eu
do arco íris só porque assinei o armistício
com o tempo? Esbarro na verdade
como se a tivesse encontrado estendida
no chão num beco a esvair-se em sangue.
diziam que a lua cheia alterava as marés
mas hoje prometi não falar disso por
apresentar-se no céu vestida de noiva
como um lugar comum

Pupilos do Exército

Maio 25, 2021

juntas os putos
são como esquilos
à palavra arrancas-lhe o p

com a faca
cortas ao meio
juntas o pu com ilos

num prato de nostalgia
decoras com p
e tens pupilos



António Só, ex aluno nº 372/86
dos Pupilos do Exército,
celebrando o seu 106º aniversário

O cigarro

Maio 24, 2021

“sou príncipe num reino de cinzas e fumo”
(falava o cigarro na boca do rapaz)
fazer grafittis nos pulmões é meu costume
dos vícios sou terrível, da saúde capataz

enrolo-me nas folhas secas do tabaco
enrolo-me na cama com a nicotina
normalmente com café ou licor de Baco
súcubo insaciável erótica assassina

faço promessas vãs à frágil juventude
mentindo que lhes dou um estilo respeitável
adoro interromper qualquer vicissitude
transformo a atmosfera do ar insuportável

tenho contrato milionário com a morte
levando candidatos novos a seus pés
a serem as próximas vítimas na sorte
apanhados na rede do vício e estupidez

O tédio é meu herói, a ansiedade heroína
se não for consumido logo no momento
num ápice convoco a fúria das Erínias
vingo o malefício ardo em lume lento

à partida sou dos fracos forte vencedor
consigo enfraquecer o corpo de fadiga
vampiro na energia, reles delator
a força de vontade é minha arqui inimiga

estimulo sensual a pose da mulher
nos lábios nos dedos na boca da boquilha
sou sócio assíduo no clube do prazer
nas ruas sou aceso uma estrela que brilha

antigamente convenci o mundo inteiro
se me chupassem à saúde era benéfico
se morro tenho por túmulo o cinzeiro
leva-me à tua boca suja é lá que fico

solitário, posso fazer-te companhia
alivio ombros vergados da escravatura
nas ruas os mendigos pedem-me de dia
à noite parecem malignas criaturas

sou unidade monetária nas prisões
conseguem-se luxos com maços de cigarros
sou rato roedor da pleura dos pulmões
alarmo quando o sangue rubro vem no escarro




António Só, ex fumador

Crise humanitária

Maio 23, 2021

Como pode o amor alquímico nos versos
se neste instante retiram-se homens do mar
que discurso cínico de gente perversa
recusaram na Europa deixá-los entrar

vindos do morno Mediterrâneo não de férias
deram à costa extenuados cheios de fome
uns afogam-se, outros náufragos na miséria
em campos restritos - isto tem um nome.

em pleno século vinte um, que vergonha
na marroquina costa ou noutro território
a liberdade é uma mentira tão risonha
manipulado vírus em laboratório.

"não há espaço vão-se embora, estamos lotados"
recebidos com tanques e polícia coerciva
alinharam-nos em fila a maioria debilitados 
postos inocentes em prisão preventiva.

como posso cantar o amor se filantropos
jogavam monopólio enquanto acontecia
esta tragédia humanitária como roubo
à liberdade à dignidade à democracia

onde andam amigáveis Schillers do presente
que antigamente haviam cânticos de esperança
serão contemporâneos tempos diferentes
na borrasca quando virá doce bonança

vieram em busca de pão paz e sossego
quem sabe constituir família ter um lar
comícios de palavras vãs são como pregos
no homem que um dia - dizem - nos quis salvar

crianças que perderam pais no caminho
marítimo azulado e novo cemitério
enquanto nas orgias se entorna esperma e vinho
entretidos na carne, interdito mistério.

vénia à enfermeira branca que abraçava
o ser humano negro cheio de fome e sede
aquele pobre homem não tinha mais nada
pescado no martírio por obscura rede

serão levados para novas escravaturas
de máscara no rosto tudo se consegue
as notícias fabricam novas criaturas
mascaradas de verdade - alguém que as negue

indiferentes assistimos à crise humanitária
a gaivota vem à costa denuncia a tempestade
criou-se um cordão cruel desumanitário
onde é que ali está Deus, para quando humanidade?

 

A extrema solidão

Maio 22, 2021

a Maria João Brito de Sousa , poeta

o poeta é enfermo sua extrema solidão

tornou-se há muito tempo seu pior inimigo
a Beleza é a doença, sem cura ou solução
o poema é do real exílio ideal abrigo

o poeta ingénuo julga que comete crimes
escreve às escondidas, sofre dissabores
do esgoto subterrâneo extrai rubis e rimas
sem coroas de louros estimas e louvores

ama as coisas belas como os fiéis um deus
na luta contra o tédio é antigo gladiador
tem por tesouro ouro do sol do mês de Maio

cada minuto importa, alheio aos anos meses
é tigre solitário, da metáfora predador
é no amor cirurgião, na tempestade o raio

 

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