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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

Olho o branco espaço tempo incerto...

Novembro 24, 2005

Olho o branco espaço tempo incerto,
Quando da tinta quero só o que vejo,
Olho o sol erguer-se do deserto,
Em sonhos; e versos, em papel, despejo.
Solta-se ferrolho pesado e entro
Na repleta beleza como epicentro.

Quando fixo olhar, nada me ocorre,
Sentado, realmente sonho criança,
Vejo estreita paisagem que percorre
E esqueço o santo ofício que nos cansa.
Eis que aperto surge sem que saiba,
Não há Universo que em mim, não caiba.

E cabe-me engaiolá-la, ave exótica,
Das tropicais florestas nunca vistas,
Sorrateira inspiração na óptica,
Quem nunca viu surgir estrelas imprevistas.
Passam à frente tão doces momentos,
Candentes estrelas rasgam céus, os ventos.

Mas antes do que inspira só o ser,
De abertas asas, engaiolado, não voa,
Que sonha alguém para me desprender,
Cantando, encantado, com quem se entoa.
Quem chilreio doce não se amordaça,
Pois dentro natureza sua, embaraça.

Reparto-me em mil versos sossegado,
Música que trago não podendo
Sem que ouvidos os tenha subjugado
E alçado o canto a ira vou contendo.
Introspecto tanto no fim do dia,
Se d' outra forma fosse, adoecia.

Colhe-se o qu' é nosso imenso gosto
Tem a mente cesto que comporta,
E quando cheio, e tanto bem composto
Abre-se gentil a um ente a porta,
Do próprio mundo que do ser advém,
"Entrem e vejam o que nele contém!"

E vejo-o como sendo o próprio mundo,
Da Lua, visto, vê-se azul terrestre,
Contemplando o nosso lar rotundo,
Bela obra divina, cena campestre!
E soa a Sexta de Ludwig soando,
Como majestade no palácio entrando.

Porque não vejo outro lar senão,
Globo rotineiro do que não tem,
Passado nem futuro, tempo. Questão:
Como? Quem? e resposta não vem.
Caminha Homem na Terra sem destino,
E sentimento este é só benigno.

Ó coração de pedra: a ti não basta,
Colher raios de sol na madrugada,
Anseia-se ser cativo em nobre casta,
Nem que se viva a vida anafada.
Como aquela loba que nos enche,
De fúteis desejos que não preenche.

Quantos são, da tábua, mandamentos,
Escritos, contam, com divino fogo,
De visões que se erguem monumentos,
Mares onde com os olhos me afogo.
Porque beleza etérea ao escuro, resiste,
Do germinado Mundo, que à volta, existe.

Por isso guardo os mais ínfimos gestos,
Porque em todos vejo um Universo,
Ó fortes, de banquetes não são restos,
Porque me dão riqueza a meus versos.
São no lodo flores finas, mimosas
Sendo pobres, nobres são ditosas.

Ouvi um conto triste e ountro ainda,
Que idoso ainda com o Sol se ergue
Andando declinado até que finda,
Jornada que à Vida ceifa e persegue.
Mas enquanto de ouro esse Sol for,
Calmos, embalemos berço de Amor.

Mas traição morde e a gente atordoa,
Dessa mortal constância imperfeita,
Que, expelido veneno por alma boa,
Torna e aperfeiçoa, nunca perfeita.
É por Deuses oculta cruel verdade,
Transcende ao humano a imortalidade,





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