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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

Desenquadrado

Março 31, 2006

Que farei com esta vida que tenho,
Vendo serem altos mais do que eu,
Sinto-me em terra estranha um triste estranho,
Cobrindo o rosto com um espesso véu.

Olho em meu redor e estranhos vejo,
Duma expressão segura mais fluente,
Falando alto como alto festejo,
Que oiço e me parece ser indecente.

Mas quem tolhido pelo mundo feito,
Seu império em espírito ruir assiste,
Repense o seu pensar ser mais perfeito,
Semelhante pensar de quem desiste,

Que é longa ainda a jornada quem aspira,
Em direcção a um céu de tecto eterno,
Começando, começando... respira,
Ó ser que ao ser que é seu não o governa.

Sentido o ar pesado desta cidade,
Tão repleta de vida em desmesura,
Que vidas tão dispersas numa idade,
Detêm, como doença ter a cura.

Inspirando-me que as coisas e a forma,
Se unem, se amam, quais coros cantando,
Forma uma só voz que tem retoma,
Dos céus como se anjos para nós olhando.

Se este amargo pensar a um lado levasse,
Mais cedo eu chegaria antes que todos,
Mesmo que o meu erguer tanto custasse,
Melhoraria de facto todos os meus modos.

Esqueço no entanto a fortuna diferente,
Que luz nos olhos e não luz no escuro,
Apresso o fim pesando a minha mente,
Pensando que não vivo, apensas duro,

E durar para quem sente não chega e basta,
Embrenhar-me no mundo indefinido,
Sem que sofra destino e a dor afasta,
Como de alguém que eu tenha conhecido.

Pensar que sou um mísero grão minúsculo,
Deter esta valiosa existência,
Que a alma filtra, quase um outro músculo,
E viver é quase um acto de irreverência.

Deixo-me ir sem que ir seja um desejo,
Entrego-me ao inverso do abandono,
E comemoro como um falso festejo,
Provar sabor de um bem dormido sono.

Deixo correr como se eu pudesse,
Deixar correr um manso e brando rio,
Pensando como se o mundo concedesse,
Cantar, gritar como nunca ninguém ouviu.

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