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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

Tédio II

Agosto 12, 2016

Calor nocivo às rosas e lírios do peito.

Lá fora, incendiário, o sol é uma fornalha

O tédio, fiandeiro inquieto tece um leito

Para entoar ruidosos cânticos de gralha.

 

Pesado, entontecido, mole, entorpecido

Arrasto meu pensar à sombra do que sou

Perguntam-me o que tenho: “nada, aborrecido.”

Foi obra do destino que me condenou.

 

São grilhões invisíveis postos no querer

Na vontade, indigente, na esteira do vento

À procura de versos capazes de fazer

Tremer a Terra inteira com um sentimento

 

Leitor, tu peregrino nas redes sociais,

Que procuras prazeres fúteis e mesquinhos

Passa, não digas nada, pois que são mortais

As cantigas do tédio, gritadas por vinhos.

 

Pois este poema seco é um poço abandonado

Onde não matarás tua sede insaciável

Caligrafia torta, poema rasurado

Escrito pelas mãos dum poeta insuportável.

 

Haverão de inventar a cura deste tédio

Sou paciente à espera numa sala obscura

Do médico brilhante que traga remédio

Que vença esta doença que a liberdade cura

 

Ó tédio, cujo rosto ignóbil se afigura

Um sol oculto pela névoa incendiária

Escrever é meu repúdio, moeda na ranhura

Da máquina da vida, inútil, tumultuária.

 

Tua língua infecunda de víbora insensível

Que sonda os espíritos audazes ao luar

Qual presa distraída num prado aprazível

Só o beijo da Morte te pode igualar.

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