Tédio II
Agosto 12, 2016
Calor nocivo às rosas e lírios do peito.
Lá fora, incendiário, o sol é uma fornalha
O tédio, fiandeiro inquieto tece um leito
Para entoar ruidosos cânticos de gralha.
Pesado, entontecido, mole, entorpecido
Arrasto meu pensar à sombra do que sou
Perguntam-me o que tenho: “nada, aborrecido.”
Foi obra do destino que me condenou.
São grilhões invisíveis postos no querer
Na vontade, indigente, na esteira do vento
À procura de versos capazes de fazer
Tremer a Terra inteira com um sentimento
Leitor, tu peregrino nas redes sociais,
Que procuras prazeres fúteis e mesquinhos
Passa, não digas nada, pois que são mortais
As cantigas do tédio, gritadas por vinhos.
Pois este poema seco é um poço abandonado
Onde não matarás tua sede insaciável
Caligrafia torta, poema rasurado
Escrito pelas mãos dum poeta insuportável.
Haverão de inventar a cura deste tédio
Sou paciente à espera numa sala obscura
Do médico brilhante que traga remédio
Que vença esta doença que a liberdade cura
Ó tédio, cujo rosto ignóbil se afigura
Um sol oculto pela névoa incendiária
Escrever é meu repúdio, moeda na ranhura
Da máquina da vida, inútil, tumultuária.
Tua língua infecunda de víbora insensível
Que sonda os espíritos audazes ao luar
Qual presa distraída num prado aprazível
Só o beijo da Morte te pode igualar.