O vencer dos corvos
Novembro 14, 2011
Já nem sequer te encontro nas palavras,
Mas encontro o teu rosto a erguer-se
como a Lua suspensa prateada e fatal.
Meu coração arrasta-se, sangue pisado
Coberto de bandos esparsos de corvos, meus pensamentos,
Vieram pousar em mim soturnos e viúvos,
Da vida, para me lembrar que não te vejo,
da Morte, para me levarem com eles um dia.
Escrevi versos chorosos com lágrimas de sangue,
escreverei relutante como se meu coração,
Fossem estas palavras lançadas ao abismo.
E não cheguei a contar-te,
Mas no dia da partida vi um pombo,
voando, na gélida manhã do adeus,
embatendo na fachada do prédio onde dormi,
e aquela praça, onde ouvimos ainda os gemidos,
dos que morreram heróicos por liberdade,
Caiu-me em cima de mim como a resolução do mistério.
Já sou cinzas antes da derradeira hora,
já sou choro dos entes queridos,
Rosas e lírios pálidos, desmaiados em mim,
E sou o fantasma, corpo sem alma,
Garrafa de plástico boiando nas águas,
Na culpa inútil de coisa nenhuma,
Desde que não mais me deitei no prado dos teus olhos,
tornei-me sombra sem árvore ao sol,
E avanço infeliz como alguem cego que vê,
Porque essa luz que me deste extigui-se,
Antes de saber se tornaria a iluminar,
O templo da minha vida...