Bilhete de Ida
Março 04, 2011
Já perto do momento em que correrei aflito,
Bala cuspida do revólver da vida,
Cismando que a lua virá ver-me hoje despida,
Com o seio descoberto, à Delacroix. Um grito,
Alucinante, acorro, pareço um fantasma,
Passeando à claridade do dia sem ninguém,
Cruzar-me contigo, ó Loucura, não me convém,
Não irei parar para te ver, como quem pasma,
Levo o Saramago para fazer-me companhia,
Durante a viagem, tapando os meus ouvidos,
Como se levasse num embalo os meus sentidos,
Tapete mágico que flutua com poesia.
Espera-me o momento na gare que irei esperar,
Solene, a lenta entrada do comboio como um rei
Uma Arca de Noé de ferro onde entrarei
À procura do assento certo onde me sentar.
As terras ficarão para trás, mas minha vida,
Quando voltar será igual, seca, rotineira,
Eu sou um cacho de uvas caído da videira
Inútil para o vinho, ou para outra bebida.