Não ser uma gaivota
Março 02, 2011
Dedico-me à vaidade dum sonho impossível,
Absorto, inútil, vago vejo-me partir
Na gaivota trocista planando suave, incrível,
Que a olhar pra mim se põe a rir, a rir, a rir...
Estou numa plataforma à espera do comboio.
Vontade de perdê-lo, deixá-lo ir embora,
Meu rosto perde a cor, empalideço, morro
Olho o relógio, o sol, ainda não é minha hora.
Embrenho-me na flora humana, a fina flor
Sente-se o cansaço a transbordar nos rostos
gostava ouvir por dentro a fluidez do sangue,
O amargo digerir diário dos desgostos
Procuro o meu lugar ao sol e protegido
Procuro abstrair-me dos meus pensamentos,
Zumbem como abelhas, vespas, retraído,
Escolho um lugar distante dos meus sentimentos
O rio quedo e mudo, as águas estão paradas,
Vejo-as num relance, quando avanço, enfim,
Parece um óleo espesso como águas passadas,
Que não se encontram fundo nem sequer um fim
Senta-se à minha frente a rapariga loira
Seus olhos azuis brilham cheios de ilusão,
Prefiro não olhar, criar-lhe desconforto
Porque sei ver as coisas com o coração.
O delírio do comboio quando abrem as portas,
O atropelar de gente, o pânico perder,
A nossa estação, de folhas secas, mortas,
Não vá ficar num banco o meu fútil querer