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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

Em Alerta

Junho 16, 2010

Meus nervos oscilam entre o Céu e a Terra,

São aves confusas, não sabem para onde ir,

São exércitos temíveis, em constante guerra,

Fartos da paz do lar, ansiosos por partir,

 

São águas que se agitam por coisas menores.

Nos nervos, há um estranho efeito borboleta,

E com o passar do tempo os ventos são piores

São tiros de canhão, são versos de poeta,

 

De poeta, que não escreve, só por escrever,

Que sofre a maldição do mágico sentir,

De gula: quer ver tudo, ouvir, tudo saber,

Para que possa, enfim, um dia em paz partir.

 

Vivo na inconstância da curta primavera,

Que dura um breve instante e, bela, logo passa

Como uma vela acesa derretendo cera

Como uma tela em branco que um pintor abraça.

 

Nunca me cansarei nos tempos que virão,

Nem que seja julgado num breve futuro,

Nem searas de poemas me consolarão

Ou ser o sal da terra branco em estado puro.

 

Sinto saudades daqueles que me procuram,

Nos abismos que nos dão ao rosto um olhar vago

Humana, que invisíveis couraças perfuram

Apenas num olhar perturbador de mago.

 

Tropeço num degrau, caindo devagar

No impalpável chão gelado do meus dias

Como se me sentisse no Verão congelar,

Aqueço o coração nas longas sinfonias,

 

Nas coisas que, subtis, nos dão felicidade,

Há um raio de sol que me derrete o gelo

Que nos fazem esquecer um pouco essa verdade,

Como ser curto o tempo, e o dia ser tão belo.

 

Não quero ser o lobo que anda solitário,

E diz ter um saber maior que uma alcateia,

Ou ser um peixe raro posto num aquário

Ou abelha perdida, longe da colmeia,

 

Há quem se julgue eleito por um deus maior,

Há quem, louco, se julgue ser o escolhido,

Há quem deseje ser o próprio Deus, pior!,

E eu que julgo às vezes viver cá perdido

 

Dure-me um momento, doce contemplação,

Bebendo a luz do astro que nos trouxe a vida,

Repito-me, bem sei, mas forte é a ilusão

Não ser festivo o dia, alegre despedida,

 

Celebre-se, então, que o fim da tarde é o lacre

Num rosto de crepúsculo suave, intimidado

Se o chumbo celestial não venha de fiacre

Ventos ordenados por um vento irritado.

 

Viver sem consultar relógios milimétricos,

Que giram lentamente os ponteiros velozes,

Viver sem contemplar horizontes geométricos

Sem palavras correctas, sem fingidas poses.

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