Em Alerta
Junho 16, 2010
Meus nervos oscilam entre o Céu e a Terra,
São aves confusas, não sabem para onde ir,
São exércitos temíveis, em constante guerra,
Fartos da paz do lar, ansiosos por partir,
São águas que se agitam por coisas menores.
Nos nervos, há um estranho efeito borboleta,
E com o passar do tempo os ventos são piores
São tiros de canhão, são versos de poeta,
De poeta, que não escreve, só por escrever,
Que sofre a maldição do mágico sentir,
De gula: quer ver tudo, ouvir, tudo saber,
Para que possa, enfim, um dia em paz partir.
Vivo na inconstância da curta primavera,
Que dura um breve instante e, bela, logo passa
Como uma vela acesa derretendo cera
Como uma tela em branco que um pintor abraça.
Nunca me cansarei nos tempos que virão,
Nem que seja julgado num breve futuro,
Nem searas de poemas me consolarão
Ou ser o sal da terra branco em estado puro.
Sinto saudades daqueles que me procuram,
Nos abismos que nos dão ao rosto um olhar vago
Humana, que invisíveis couraças perfuram
Apenas num olhar perturbador de mago.
Tropeço num degrau, caindo devagar
No impalpável chão gelado do meus dias
Como se me sentisse no Verão congelar,
Aqueço o coração nas longas sinfonias,
Nas coisas que, subtis, nos dão felicidade,
Há um raio de sol que me derrete o gelo
Que nos fazem esquecer um pouco essa verdade,
Como ser curto o tempo, e o dia ser tão belo.
Não quero ser o lobo que anda solitário,
E diz ter um saber maior que uma alcateia,
Ou ser um peixe raro posto num aquário
Ou abelha perdida, longe da colmeia,
Há quem se julgue eleito por um deus maior,
Há quem, louco, se julgue ser o escolhido,
Há quem deseje ser o próprio Deus, pior!,
E eu que julgo às vezes viver cá perdido
Dure-me um momento, doce contemplação,
Bebendo a luz do astro que nos trouxe a vida,
Repito-me, bem sei, mas forte é a ilusão
Não ser festivo o dia, alegre despedida,
Celebre-se, então, que o fim da tarde é o lacre
Num rosto de crepúsculo suave, intimidado
Se o chumbo celestial não venha de fiacre
Ventos ordenados por um vento irritado.
Viver sem consultar relógios milimétricos,
Que giram lentamente os ponteiros velozes,
Viver sem contemplar horizontes geométricos
Sem palavras correctas, sem fingidas poses.