As Contradições do Amor
Junho 08, 2010
O teu amor não foi entregue em vão
Nunca é em vão o nosso amor entregue,
Por mais que o teu coração te negue,
Pergunta-lhe se era amor ou paixão,
Também sobre a razão e a loucura,
Se é uma loucura a vida, então o amor,
Mascara-se de mal que nos dá dor,
Sem converter-nos a dor em ternura.
Longe de ti a culpa pertencer-te,
Se a culpa é um laço atado às mãos dos dois
Quebra-se a aliança, quebra-se depois
Desejo de viver a envolver-te,
Pois que esse amor fogoso, então se é fogo,
Devora-nos a íntima floresta,
Desfeita em cinzas, o que de ti resta,
Será que é fogo o amor que arde? Interrogo.
Frágeis, somos frágeis, assim vejo,
Quando tentamos ver do amor desígnios,
Se dele tenho ouvido mil declínios,
Parece-me mais fruto do desejo,
Pois quem ama não tenta defini-lo,
Quem ama, sofre e sabe o que é sofrer,
É muito mais do que esse bem querer,
Que a gente sofre para consegui-lo.
Mas parece-me justo e legítimo
Primeiro conhecer-se a pessoa errada,
Até que venha aquela bem amada,
que nos toca ao de leve o nosso íntimo,
Que absorve o amor como se fosse água,
E nos devolve em água ainda mais pura,
Que nos conforta, que nos dá ternura
Drenando da nossa alma angústia e mágoa.
Se já não crês que amada venhas ser,
Serás, pois te roubaram a esperança
Crê que virá alguém de confiança,
Dar-te o que te negaram, sem querer,
Cega-nos esse amor confuso e falso
Com falsas vibrações de uma paixão,
Estrela que nos guia à ilusão,
Levando-nos mais tarde ao cadafalso,
Pois que no amor o bem mal nos parece,
E o mal parece bem sem que bem seja,
Não podemos amar quem não deseja,
O mesmo bem que nosso amor oferece,
Perdoa aquele que não soube amar-te,
Mesmo que viva no arrependimento
Que no presente vem dar-te tormento,
O que não soube no passado dar-te.
Teu coração estará em alerta máxima,
Ao sopro melhor que há nesta vida,
Verás que ficarás como vencida,
Por quem querer-te vai dele estar próxima,
Ter o prazer da tua companhia,
Ver-te com meigo olhar sem os ferozes,
Olhos de lobos que são atrozes
Que muitos primam mais por ousadia.
Aquele que te amar fará sorrir-te,
Não pode ser quem te provoca o choro,
Quem vem grotesco encher-te de indecoro,
Que nunca quis amar-te nem ouvir-te
Há dessas almas que andam tão confusas,
Vacilam muito no querer amar,
Desconhecendo o nobre acto de dar
Nascidos num berço cheio de recusas.
Podia sobre o amor em vão perder-me
Pois sinto o amor em mim sentir é tudo,
Mais que explicá-lo, ou ser alvo de estudo
É sentir lentamente converter-me,
Amor é ver crescer flores à volta,
É dar por este altíssimo mistério,
Sentir que já foi reino, agora império
Sem que ódio sintas, culpa, dor, revolta
Amor não é um fogo que devora,
A nossa alma que é uma verde floresta,
Não pode ser fedor que tudo empeste
Tem que ser um bem que nos revigora,
Que nos reanima e nos devolve o gosto
Alegre de voltarmos a viver,
tem que ser bem benigno, tem que ser,
Nunca um maligno mal que dá desgosto.
Amor é um sopro vivo que se sente,
Na alma, um florescer, verde florir
Um rebentar em cor, um explodir,
De vida envolta, bela e sorridente
Que derruba altos muros, ergue pontes
Erguida pelo saudável diálogo,
Não pode em duas almas ser um monólogo
Como o vento falando aos verdes montes.
Lembrando que nos fere o agudo espinho,
Nas horas mais difíceis de inconstância,
Provando amor se é puro na constância,
No conforto do lar que é nosso ninho,
Que às vezes soa a uma contradição
Que não se entende, nem se acha sentido,
Anda-se cá na terra tão perdido,
Por ser complexo o humano coração.
Mas tudo vence, reina triunfante
Sobre os contraditórios sentimentos,
Que nos baralha tanto os pensamentos
Mas nos devolve à luz clara e brilhante,
Não vale a pena procurá-lo se ele,
Esconde-se ao sentir-se perseguido,
É um sentimento que vive perdido
O único com brandura ódio repele.