Ofício
Junho 07, 2010
Tudo é excessivamente real pra mim,
Ter a noção que nada é fantasia,
E o refugiar-me mais na poesia
Mostra-me mais de perto o amargo fim.
Quem diz daquele céu azul riscado,
De branco, pelos pássaros velozes,
Dos crepúsculos vivos e ferozes,
De fogo vivo e púrpura pintado?
Já secara a flor de laranjeira,
Do prado, o verde vivo alourara,
O efémero, meu peito apertara,
Como ver breve a vida, passageira,
E a flor nascida para seduzir
Desabrochada, enfim, feita mulher,
Agora, desfolhada, quem a quer?
Quero eu, que amo a coragem de existir.
Dengosa flor que adoro e te contemplo,
Nasce-me um bem, de ti só por olhar-te,
Em ti, ainda consigo encontrar arte,
Como um grego ou romano antigo templo,
Pudesse haver um mundo paralelo,
Com outro tempo a mais onde pudesse,
Escrever tudo o que sinto, e que me desse,
Um mundo bem melhor, saudável, belo,
Qualquer poema escrito tem início
E um fim. Hei-de escrevê-lo eternamente
Pois que este ponto o tempo me consente
Ser verme nesta flor do meu ofício