A conta que Deus fez
Junho 01, 2010
I
Minha embainhada espada posta a um canto!
Já meu desleixo foi longe demais,
À toa esgrimo agora, as musicais,
Melodias expelidas. Mas no entanto,
Sinto-te invisível, consolação,
Que teu materno abraço sinto agora,
Em mim, há uma criança órfã que chora,
Que cinjo no meu peito, ó coração.
Como um mágico antúrio empertigado,
Viril, vaidoso, ousado, altivo, erótico,
Que não deseja mais que ser amado
Ainda me sinto fruto, um fruto exótico,
Meio verde, meio maduro ser trincado
Por este mundo estranho, vil, robótico.
II
Entre esta melodia melancólica,
Floresce-me um desejo de dizer,
O que sinto e não sinto do viver
Quando o meu mundo abala e a alma é bucólica
Impérios por fundar, templos erguer
Como não haver parques pra crianças,
No meio da cidade sem esperanças,
Longe de mim ter mais que meu querer.
Não sei ser outro, amiga, o ar infantil
é uma esperança inútil que me salva
De andar morto na terra ainda em vida
Sou quem pretende o céu azul anil
Escrever-lhe um poema com a cor de malva
Até que sinta ser folha vencida.
III
… e não esquecer-me nunca o amor que sinto
Pois que esta mão gentil me mima e ampara,
Ó tédio, hei-de sorrir por ver-te extinto
Montanha inacessível que escalara,
Onde atingira o cume alto indistinto
Por nuvens que num dia as desmanchara
Num poema, palco flutuante, onde minto
E minha alma no alto Olimpo é cara.
Meu passado... que sonho tão distante,
Costa a afastar-se, no navio presente
Aceno! Ignoro o meu futuro incerto
Qualquer momento é feito de diamante,
Meu El-Dorado de ouro reluzente
Que foi por mim um dia descoberto