As Janeiras
Janeiro 04, 2010
Bom dia, Dois Mil e Dez,
Bom ano! Bem que vieste,
Sombra colada a meus pés
Esguia de verde cipreste,
No início é sempre mudança,
Que metemos na vontade,
Nada muda, só a esperança,
Que esmorece, na verdade.
Observo o mundo lá fora,
É muito mais velho que eu,
Sou aquele que namora
As infindas estrelas no céu
Sou o que trago vontade,
Dobrar o férreo destino,
Que funda soa à idade,
Ao ácido som do violino.
Ó rostos que agora contemplo,
Ó bocas que nunca beijei
Ó deusas que oram no templo,
Que o corpo nunca tomei,
Papéis esparsos que tenho,
Guardados numa gaveta,
Meus solilóquios de estranho
São mil devaneios de poeta.
Ó duas pombas mimosas,
Que vira hoje de manhã,
Que voaram tão deleitosas,
Aos meus olhos sem amanhã,
Minha amálgama terrestre,
Serei sempre o que escrevi,
Serei o fruto silvestre,
Que plantei e não comi.
Não há cura a esta doença,
Que padeço por olhar
Crio à alma desavença
Por ver sem poder provar,
Sou a chuva copiosa,
Que não cessa o versejar,
Sou a nuvem langorosa,
Que não vive sem parar
Sou a geada matinal,
Na selvática verdura
Sou a aurora boreal
Que dum céu anda à procura,
Sou a roda giratória,
Que nos anuncia a sorte,
Sou a nota introdutória
Escrita pela mão da Morte.
Quantos poemas escreverei,
Ano Novo, Vida Nova,
Quantos versos já sonhei,
Cuja vida mos reprova?
Servirão de alívio doce
Aos que sofrem neste mundo
Como se a salvação fosse
Para as mágoas lá do fundo?