O Extremista
Setembro 03, 2009
Às vezes sou selvagem,
Arrogante qual leão,
Sou às vezes tão submisso
Infeliz qual pobre cão,
Às vezes sou a águia,
Escolho o alvo, vejo bem
Lebre esquiva, aventureira
que no prado corre além.
Às vezes sou violento,
Sou abstracto, indefinido,
Mórbido, imundo, nojento
Receoso, destemido
Sou às vezes leve brisa,
Valiosa no Verão,
Sou a ilustre Mona Lisa
Ardendo num caldeirão
Às vezes sou a cobra,
Mordente nos mil dizeres
Sou equivocado como,
Nobre povo em seus dizeres,
Às vezes uso a máscara,
Personagem teatral,
Para quem não me conhece
Para quem me quiser mal.
Brando, às vezes como o rio
Fresco Zêzere, vagaroso
Celebrado, antigo Tejo
Imortal e lacrimoso,
Às vezes sou sonhador,
Petulante e atrevido
Melancólico, tão triste
Numa teia envolvido.
Às vezes sou o tigre,
Camuflado solitário,
Repelente, sou miséria,
Quanto vale meu salário,
De poeta, que não sabe
Quanto vale em peso de ouro,
Ignorando se seus versos
Luzirão como um tesouro.
Às vezes falo em código
Sem querer codificar-me,
Sem haver valiosa pista
Se preciso desvendar-me,
Às vezes traço um círculo,
Definido, inconsciente,
Fogo ardente que me impede
Ver a Aurora do Oriente.
Sou às vezes intranquilo,
Sou mar temperamental,
Esquivo às vezes qual esquilo
Fugitivo de seu mal,
Sou no ar veloz falcão,
Paira sobre verdes montes,
Procurando que comer,
Metáforas, novas fontes
Sou a rectilínea sombra,
Da cidade, nas conversas
Sou um manto espesso, escuro
Nas palavras mais adversas
Às vezes sou semanas,
Que nos custam a passar,
Longos anos, longos dias,
Que ninguém quer recordar.
Às vezes sou espinhoso,
Do aromático pinheiro,
Qual cipreste, arbusto, planta
Choroso como o salgueiro,
Agressivo se sentir
O perfume da mentira,
Brando se oiço alguém cantar
Como nunca antes ouvira.
Sou assim, Outono Inverno,
Primavera e o Verão
Espasmo feito de lembrança,
De esperança e solidão,
Sou o abraço do soldado
Que abraça sua mulher,
Na sofrida despedida
Que anseia voltá-la a ver.
Sou colina, sou rebanho,
Sou as ervas, sou comido,
Pelo tempo ruminante
Pelo mundo sou bebido,
Dobradiça de uma porta,
Que se impede de fechar,
Sou a chave a porta abrindo
Pra sair de mim e entrar.
Sou o claustro de mosteiro,
Muro das lamentações
Sou fiel, sou companheiro
Combatendo tentações,
Sou demónio do céu expulso,
Ascendente alma do céu,
Beijo abraço por impulso,
Talento que deus nos deu.
Tenho livros, bibliotecas
Lidos nos meus vagos olhos
Tenho CD’s, discotecas,
Bandas, músicas aos molhos,
Tenho vícios e maus hábitos,
Como qualquer animal,
Sou artista, sou guerreiro
Demoníaco, angelical.
Sou límpida água de um lago
Numa floresta encantada,
Sou fétida água de um lago,
Na cidade condenada,
Sou doença, verme, insecto,
Sou a cura, a mão que mata,
Coração puro, impuro,
Mão que o nó ata e desata.
Tenho o dom ser toda a gente,
Maldição não ser ninguém,
Tenho dois pólos na mente
Tenho o que mais ninguém tem:
Nem que seja único nome,
No que fiz, no que farei
No que vou escolhendo em Vida
Se da Morte eu nada sei.