A Bela Flor
Setembro 01, 2009
Eu costumava ler-te e as noites prolongar,
Bebido de licor da cor dos teus sonetos,
Extasiado e lânguido, um rio de luar
Ler-te… que ficassem os meus olhos pretos.
Contigo, embriagada, bela na moldura,
Posta fielmente ao meu lado, chorosa,
Coberta por um xaile negro de ternura,
Para beber teus versos, poetisa amorosa.
Porque sentia ter a tua inquietação,
O teu pulsar inquieto, a fome insaciável,
A atroz melancolia, a doce solidão,
No róseo entardecer, benigno, memorável.
Velho, perturbado, eu rejuvenescia
Ao ler-te, embriagado por rubro licor,
Até fragrâncias novas tuas recolhia,
Desse amor colorido que era a tua dor.
Mágica, atrevida, rábida, envolvente,
Seguia-te as pegadas dos teus pensamentos
Pondo nos meus versos o teu beijo ardente
Para esquecer a dor, com mil atrevimentos.
Subiste à tua torre e perguntaste a quem,
Vivera como tu, nessa doce amargura
Tu que és da mulher símbolo, já no além
Diz-me o que é melhor: a vida ou a sepultura?
O teu rosto redondo, pálido e mortal
Parecia mergulhar na reflexão da Lua
Teus olhos perseguiam um canto imortal
Que te dera fraqueza igual a quem jejua.
Rainha da ansiedade à espera que viessem,
Pôr cobro à agonia, e que te amassem bem,
Coroando-te de abraços, mil beijos te dessem
À espera de notícia alegre que não vem.
Amo a definição que tens de ser poeta,
Saber que foste aquela que andou cá perdida
Amo os que seguiram sempre em linha recta
Dando encontrões à morte, e pontapés à vida.