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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

A Bela Flor

Setembro 01, 2009

Eu costumava ler-te e as noites prolongar,

Bebido de licor da cor dos teus sonetos,

Extasiado e lânguido, um rio de luar

Ler-te… que ficassem os meus olhos pretos.

 

Contigo, embriagada, bela na moldura,

Posta fielmente ao meu lado, chorosa,

Coberta por um xaile negro de ternura,

Para beber teus versos, poetisa amorosa.

 

Porque sentia ter a tua inquietação,

O teu pulsar inquieto, a fome insaciável,

A atroz melancolia, a doce solidão,

No róseo entardecer, benigno, memorável.

 

Velho, perturbado, eu rejuvenescia

Ao ler-te, embriagado por rubro licor,

Até fragrâncias novas tuas recolhia,

Desse amor colorido que era a tua dor.

 

Mágica, atrevida, rábida, envolvente,

Seguia-te as pegadas dos teus pensamentos

Pondo nos meus versos o teu beijo ardente

Para esquecer a dor, com mil atrevimentos.

 

Subiste à tua torre e perguntaste a quem,

Vivera como tu, nessa doce amargura

Tu que és da mulher símbolo, já no além

Diz-me o que é melhor: a vida ou a sepultura?

 

O teu rosto redondo, pálido e mortal

Parecia mergulhar na reflexão da Lua

Teus olhos perseguiam um canto imortal

Que te dera fraqueza igual a quem jejua.

 

Rainha da ansiedade à espera que viessem,

Pôr cobro à agonia, e que te amassem bem,

Coroando-te de abraços, mil beijos te dessem

À espera de notícia alegre que não vem.

 

Amo a definição que tens de ser poeta,

Saber que foste aquela que andou cá perdida

Amo os que seguiram sempre em linha recta

Dando encontrões à morte, e pontapés à vida.

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