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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

Ofício de poeta

Julho 02, 2009

Será o fim ou fase do princípio,

Deitar ao rio as pedras que esculpi?

Chego-me tão perto ao precipício,

Mas olho pelo ombro o que perdi.

Os plátanos da infância, aquele dia,

Que a claridade pura era divina,

É esta a cor, da infância, na poesia,

Que quero, transparente e cristalina.

 

Arda-me o fogo vivo até que tombe,

Em ti, mágico, creio, ó arquitecto,

Das coisas belas, meu portão arrombe.

Que universo existe num objecto!

Floresce a mais singela e pobre linha

Dou-me ao colorido deste mundo

Verta o licor sagrado que da vinha

Vem, neste palácio, meu profundo.

 

Pondera, coração, não sejas triste

Tristeza para a alma, é um veneno

Com a Beleza, alegra-te, resiste:

Floresce nesse teu rubro terreno.

Ouve as canções das árvores nas folhas

Efervescente quando o vento passa

Os peixes que, na água, fazem bolhas

Contempla, em cada flor, a sua graça.

 

Como o jovem falcão no seu baptismo,

De voo perigoso, audaz, se lança,

Ganhando nas alturas seu lirismo

Valiosa independência e confiança,

Assim me quero, sempre que me lanço,

Deste monte poético, que exprima,

Aquilo que incapaz sou de dizê-lo

Capaz só no papel branco, na estima

E possa alguém sensível vir a lê-lo.

 

O que de mim seria se não fosse,

Das coisas belas, límpidas, amante

Mistério que no tempo revelou-se

Uma tortura ser-me interessante

Ouvir-te, ó mar eterno que costumas

Tornar escura a clara e fina areia

Ver o sol vencer névoas e brumas

Ver maravilhosa, a Lua cheia.

 

Mas quando atingirei a perfeição,

Se é coisa cá na terra ainda possível,

Soltar a voz presa no coração

Mesmo que digam ser coisa impossível?

Aquela sintonia harmoniosa,

Aquela solidão que vale a pena,

O esforço que da pena rigorosa

Muito me ajuda na vida terrena.

 

Serve-me de aguarela meu poema

De magro prémio de consolação,

Na alma, uso lapela, bela emblema,

Saber se realidade ou ilusão

Se vivo morto ou durmo acordado

Se amor é fantasia, mito ou lenda

Ah, véu oculto, não ver-te rasgado

Porque não espero que haja alguém que entenda.

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