Nuvens
Maio 11, 2009
Não fosse eu de vapor e misturar-me além,
Das nuvens cor de chumbo, estranhas, peregrinas
Não fosse cedro, abeto, bétula, também
Brotos novos primaveris que me destinas
Crescem no jardim, do íntimo desejo,
Que me obrigando vão a ser um vigilante
No fundo deste céu há outro céu que vejo
Mais puro como um anjo, forte e triunfante.
Não fosse eu feito de água e na terra entornar-me,
Da taça que esta vida vasta agora esculpe,
Fosse Amazonas, Nilo, Ganges, transbordar-me
Noutro oceano imenso, que outro me desculpe.
Ou transformasse em lagos estas planas terras,
Virando em charcos prados verdes que amo e gosto,
Subo e desço os ombros desta linda serra
Onde não há indício de angústia e desgosto.
Pudesse no poema por ponto final,
Soando a um final, oposto a este início
E reinventasse o fogo, o ferro e triunfal,
Pudesse combater as hostes do suplício
Daria pra correres com cesto na mão,
Em busca do morango doce, do mirtilo
Dos frutos que se encontram só no coração,
E não fosses esquiva como o esquivo esquilo.