Minha veia de poeta
Maio 04, 2009
Minha veia de poeta,
Que me deu dias brilhantes,
Foram pérolas, diamantes
Num muito branco papel,
Como o mel a derramar-se
Como água a escapar-se,
De uma fonte inesgotável,
Catarata incontrolável.
Minha veia adormeceu,
Entre bétulas e amieiros,
Entre vaidosos salgueiros
Ouvindo as águas do rio,
À procura de outro canto,
Que lhe dê maior espanto
Qual do cisne, lá do lago
Do Norte, do canto mago.
Minha veia, sonolenta
Do cansaço citadino
Do esgotado sentimento,
Procurando seu destino,
Mas destino não procuro
Pois traçá-lo é meu dever,
Como rocha, rijo e duro
Creio mais no meu querer.
Minha veia, minha amada,
Meu martírio, gravo tudo
Não cobrir de verde manto,
Musgo, arbustos e mil flores
Não deter do tordo canto
Germinando em mim amores,
Florindo este ermo caminho,
Meu espírito feliz, sozinho.
Se tão perto escorre o rio,
Minha veia, meu amor
Não quererás encostar,
Teu ouvido à mansa dor?
Que não é dor nem é nada,
é somente outro existir
No aquoso discursar,
Que este rio nos tem pra dar.
Minha veia, fecha os olhos,
Guarda a calma mansidão
Escorre meu púrpureo sangue
Leva-o assim ao coração