Erotica
Abril 24, 2009
Calor que invade o corpo quando invade,
Num corpo combinando outro calor
O arder que desce e sobe e não se sabe,
Se é vício, se é delírio, se é amor,
Que dança a chama dança e que nos chama
O nome, o movimento, o mimo erótico?
Ó doce chamamento que nos ama,
Ardor por excelência, íntimo exótico
Quanta aventura em menos de uma hora,
Quanta pouca loucura fez-se em vida,
Que sensação nos prende e revigora,
Parece que nossa alma anda perdida.
O beijo demorado, húmido e lânguido
A língua noutra língua que se enrola
O músculo de sangue duro, erguido,
O abandono, onde tudo se evola,
Os rubores, as auroras boreais
Tingindo o céu, a pele... que arrepio!
Morno escorrer das águas fluviais,
Quando já não se tem pé neste rio.
Fecha-se os olhos, vê-se o paraíso,
Contrai-se o corpo e temos a razão,
Pinta-se um lago límpido e um narciso,
Olha-se com desdém a solidão.
E na dormência íngreme de amantes,
De amada, que reanima no desânimo,
De ser vivo e não ter tempo como antes,
Resolvo aproveitar este doce ânimo,
O crepitar dos corpos que se falam
Entregues na desnuda ociosidade,
As vozes que lá fora nos embalam,
O sol sempre na moda, a eternidade.
As sombras que se roçam pela terra
Tão verde; ao fundo o rio azul. Lá fora
A humana mansidão que beija e ferra
E nos obriga a dormir por uma hora.
Debaixo dos lençóis, um doce ninho,
O envolver de membros e promessas
À chuva, o protegido passarinho
Que nos telhados pipila às avessas.
O corpo transformando em mornos charcos
Em pântanos, planaltos e planícies
No mar, a procissão dos leves barcos
Morro, mesmo que mais me acaricies