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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

Encravado

Fevereiro 17, 2009

Se híbrido e vazio me encontro fraco,

O que haverá que possa, amor encher-me

Quebrado como um jarro, fico em caco

Com medo de perder-te e de perder-me,

 

Se não me encontro fraco, é porque peço

As palavras que nem anjos me ditaram

Preciso de virar-me do avesso:

Chamo os versos que costas me voltaram.

 

Foge-me o chão que piso na cidade

Sobe-me de súbito a tontura

De me lembrar que encontro liberdade

No mármore da minha sepultura.

 

Agora, quase arranco do meu peito,

Os versos, como se fossem raízes

Eu amo-os por não terem preconceito

De adorarem também os que me dizes.

 

Eu roubaria a aurora de manhã

Compondo com a cor que pões nas faces

Se fico na entrada do amanhã,

À espera que também, amor, não passes.

 

Não entres no Amanhã. Esse jardim

Têm flores venenosas no presente

Usa o perfume doce do jasmim,

Engana a mais astuciosa mente.

 

Falhei vezes sem conta nesta vida

Débil e imprudente agia em estar,

Noutro lado, onde andava a alma perdida

Mas onde havia um altar pra a alma orar.

 

Tentei louco deixar ser tanto assim,

Mas quando vamos contra a natureza

É como se violasse esse jardim

Com explosões inúteis de incerteza.

 

Tornei-me da Beleza fiel amante

Tornaram-se meus olhos dois falcões

Bebi da noite o néctar, triunfante

Que nos embala, abrindo corações.

 

Não sei olhar ninguém sem que não olhe,

Em cada rosto há mágicos mistérios

Espanto, no fascínio que não escolhe

Nos rostos, uns alegres, outros sérios.

 

Levas-me a mal? Não creio! Eu acredito

que a vida sofre alegre na vaidade

Desfaço-me em pedaços neste grito

Contido, por cheirar a Liberdade.

 

No fim da tarde é quando silencio

As sensações que tento transformar

Em verso, sem que fique neste frio

Morrer desperto, sem grito soltar

 

e sonho que sou águia que pairando,

sobre o rosto que busco a perfeição,

E sonho ser poeta declamando

Perfeitos versos feitos na solidão.

 

Surge-me o mundo como um mar profundo

Como se lá morasse, ouvindo atento

O silêncio marítimo, rotundo

Vivendo nesse sonho, em pensamento.

 

Tenho este ar que respiro e me consola

Nasci como se não escolhesse um nome

Sou como aquela bola que rebola

sou o lúrido fogo que consome.

 

Sobe espesso o fumo do cigarro

Da boca, leva o vento, sai a vida

Que tem tanto de beijo como escarro

Sai como um sopro igual na despedida.

 

Recuso a sonolência, o conformismo

Que existe em cada lar, onde se rasga

Escondidos episódios de erotismo,

Onde a mentira na boca se engasga.

 

No embalar da noite é que sossego,

Podendo ter o bálsamo da música

Ah, doce esquecimento a que me entrego

Solto das leis da química e da física.

 

Pensando que nem tudo é matemática

(Como é que um sentimento se equaciona?)

Eu sou igual a zero quando, apática

A minha alma se dobra e se abandona.

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