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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

Confissão erótica

Janeiro 14, 2009

O que me falta, amor, não vou dizer-te,

Nem sei se é por vergonha, medo, enjoo,

Não é romance! É mais um gozo, um voo,

Que temos quando acabo de envolver-te,

 

Meus lábios nos teus lábios; no delírio

Rosado que te tinge de prazer

Teu rosto agora é rosa, era antes lírio,

Co’a palidez mortal do amanhecer.

 

Amar-te sem pudor ou pensamento,

Num compulsivo espaço nu exótico,

O que nós dois gostamos no momento

Ninguém lá fora sabe, ó anjo erótico.

 

Na baça luz que envolve o quarto escuro,

Sente-se em baixo ardente fogo vivo

Convoca sangue ao membro rijo e duro

Se em ti me encontro amado, amor, cativo.

 

Meu dedos persistentes, peregrinos

Descobrem no teu corpo a divindade

Meus olhos curiosos são meninos

Brincam às escondidas sem maldade.

 

Fechando os olhos têm-se o infinito,

Abrindo-os… vejo-te e... sinto a verdade

Há mais filosofia nesse grito

Que não conténs e gritas: Liberdade!

 

Sente-se  o gelo em volta derreter-se,

Sente-se a primavera a aprumar-se

Sente-se a própria vida a envaidecer-se

O nosso amor na tela a revelar-se.

 

“Que as horas sejam longas”, logo penso

Neste entretenimento afrodisíaco

Lugar em que não sei onde pertenço,

Belíssimo lugar paradisíaco.

 

Sente-se a rapidez nos movimentos,

Clássicos, na dança da serpente,

Evolam-se deveres, pensamentos

Da minha langorosa e louca mente.

 

Na mesma dança que duas serpentes,

Sem enrolam pra saber se vencedora

Dançamos, deslizando resistentes

A Vénus dando mais uma doce hora.

 

A exalação das frases amorosas,

Nervoso dedilhar dos trém'los dedos,

O copiar da cor das lindas rosas,

Cortando palavra aos inúteis medos.

 

São como brasas vivas na lareira,

Brilham nos olhos jóias e riquezas

Quando aquecemos beijos na fogueira

O gelo a derreter-se nas fraquezas.

 

Praias rodeadas de arvoredo

De fina areia, água transparente,

Vejo-te a vir correr logo bem cedo

Olhando o sol a erguer-se suavemente.

 

E como se as partículas dos seres

Se juntam nesta longa harmonia,

Sentindo a vibração destes prazeres,

Vislumbro um longo jorro de poesia.

 

Cortando a via ao nosso entusiasmo,

“Espera por mim”, sussurras, cá me aperto

Fecho os olhos na praia dum orgasmo

Abro-os e encontro-me no deserto.

 

Aquela paz que traz doce sossego

Num largo espasmo, lúbrica paisagem

Fica-se agasalhado no aconchego

Usando a língua agora outra linguagem.

 

Fecha-se o teatro, as luzes ficam,

Suspenso no silêncio adormecido

A nitidez das águas clarificam

Em que se fica calmo, esclarecido.

 

Puxamos os lençóis de sono feitos

Abrindo portas aos mundos complexos

Repouso dando aos espíritos desfeitos

Do louco entrechocar dos nossos sexos.

 

No céu, a Lua põe ponto final

A noite geme; emite sons suaves

Desfalece no sono em espiral

Como o cair dos céus das brandas aves.

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