Confissão erótica
Janeiro 14, 2009
O que me falta, amor, não vou dizer-te,
Nem sei se é por vergonha, medo, enjoo,
Não é romance! É mais um gozo, um voo,
Que temos quando acabo de envolver-te,
Meus lábios nos teus lábios; no delírio
Rosado que te tinge de prazer
Teu rosto agora é rosa, era antes lírio,
Co’a palidez mortal do amanhecer.
Amar-te sem pudor ou pensamento,
Num compulsivo espaço nu exótico,
O que nós dois gostamos no momento
Ninguém lá fora sabe, ó anjo erótico.
Na baça luz que envolve o quarto escuro,
Sente-se em baixo ardente fogo vivo
Convoca sangue ao membro rijo e duro
Se em ti me encontro amado, amor, cativo.
Meu dedos persistentes, peregrinos
Descobrem no teu corpo a divindade
Meus olhos curiosos são meninos
Brincam às escondidas sem maldade.
Fechando os olhos têm-se o infinito,
Abrindo-os… vejo-te e... sinto a verdade
Há mais filosofia nesse grito
Que não conténs e gritas: Liberdade!
Sente-se o gelo em volta derreter-se,
Sente-se a primavera a aprumar-se
Sente-se a própria vida a envaidecer-se
O nosso amor na tela a revelar-se.
“Que as horas sejam longas”, logo penso
Neste entretenimento afrodisíaco
Lugar em que não sei onde pertenço,
Belíssimo lugar paradisíaco.
Sente-se a rapidez nos movimentos,
Clássicos, na dança da serpente,
Evolam-se deveres, pensamentos
Da minha langorosa e louca mente.
Na mesma dança que duas serpentes,
Sem enrolam pra saber se vencedora
Dançamos, deslizando resistentes
A Vénus dando mais uma doce hora.
A exalação das frases amorosas,
Nervoso dedilhar dos trém'los dedos,
O copiar da cor das lindas rosas,
Cortando palavra aos inúteis medos.
São como brasas vivas na lareira,
Brilham nos olhos jóias e riquezas
Quando aquecemos beijos na fogueira
O gelo a derreter-se nas fraquezas.
Praias rodeadas de arvoredo
De fina areia, água transparente,
Vejo-te a vir correr logo bem cedo
Olhando o sol a erguer-se suavemente.
E como se as partículas dos seres
Se juntam nesta longa harmonia,
Sentindo a vibração destes prazeres,
Vislumbro um longo jorro de poesia.
Cortando a via ao nosso entusiasmo,
“Espera por mim”, sussurras, cá me aperto
Fecho os olhos na praia dum orgasmo
Abro-os e encontro-me no deserto.
Aquela paz que traz doce sossego
Num largo espasmo, lúbrica paisagem
Fica-se agasalhado no aconchego
Usando a língua agora outra linguagem.
Fecha-se o teatro, as luzes ficam,
Suspenso no silêncio adormecido
A nitidez das águas clarificam
Em que se fica calmo, esclarecido.
Puxamos os lençóis de sono feitos
Abrindo portas aos mundos complexos
Repouso dando aos espíritos desfeitos
Do louco entrechocar dos nossos sexos.
No céu, a Lua põe ponto final
A noite geme; emite sons suaves
Desfalece no sono em espiral
Como o cair dos céus das brandas aves.