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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

Amante Solidão

Janeiro 08, 2009

O que me amarra, o que me cobre e me sustenta,

O que me abriga, o que me abraça e me conforta,

O que me amarga, o que me dobra e aparenta,

Não ser a morte em causa, amor abre-me a porta.

 

Acordo de manhã com o acorde na cabeça,

Saio sempre à pressa em direcção ao nada,

Desperto vagaroso, à espera que me esqueça

Da rigorosa vida ao fundo duma escada.

 

E quando cai a noite cai minha tristeza

Como no chão se quebram copos de cristal

Acendo meu ouvido, escuto a Natureza

Soando no meu peito uma voz gutural.

 

Um bálsamo divino, um embalar de sonho

Leve como um fumo no ar a evolar-se,

Sobra-me um sorriso ao despertar risonho,

Do sonho que desperto, Beleza a revelar-se.

 

Canta a cotovia, ao longe, ergue-se a aurora

Com pétalas de rosa púrpuras no rosto,

Desperta uma cidade, duas, três; na hora

A entrar no lar do mar, suspira de desgosto.

 

Num ciclo vicioso, impossível de travar,

Dentro dum globo azul sou grão azul, ninguém,

Na roda gigante que não pára de girar

Eu giro num poema sem parar, e sou alguém.

 

O que me encanta e que me cobre de fascínio

O que me sabe dessa infância já perdida,

O que me lança, e que me encobre no declínio

É o lento despertar da esperança adormecida.

 

Ao longe, um luminoso raio me ilumina

Caio receoso na funda escuridão

Aumenta, sinto perto, esta luz cristalina

Cegando o penetrante olhar da solidão.

 

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