A Loucura e a Razão
Dezembro 15, 2008
Não quero que se acabe a adolescência,
Amor, dentro de ti. Que se abram portas
Guardadas pelas mãos da consciência
Torcidas por almas devassas tortas,
Não quero que se acabe a primavera
Na tua essência cândida e florida,
Que anda sempre na sombra e desespera
No porto, na chegada, na partida,
Não quero que se acabe o que se acaba,
Logo no início de cada verão,
Não quero! E não querer, logo desaba
As terras desta minha solidão.
Não quero virar costas ao que posso
Encarar no presente e no futuro
Mais tarde o que se torna cova ou fosso
Ou cavernoso abrigo frio, escuro
Não quero resgatar-te da tristeza,
Sempre que, amor, se crave suas garras
Quero ver-te florir, a Natureza
Quero amarrar-te assim como me amarras
Prender-te num abraço que se afaste
O denso nevoeiro que nos esfria
E um beijo por dar nosso não se arraste
Durante a noite escura ou claro dia.
Nunca se acabe, nunca, nossa infância
Dentro de cada peito em que já mora,
O dissabor na vida, uma constância
Amarga (em uns fingida) e duradoura,
Sejas sempre um jardim que me convida,
A respirar a exalação das flores
Que nunca te dês, anjo, por vencida,
Como a tantos amargos dissabores,
Nos rostos que me assustam de assustados
Esculpidos por cinzel da solidão
Sejamos sempre juntos namorados
De mãos dadas: Loucura e a Razão.