Dói-me a cabeça! Ao meu dia é mau sinal
persisto em existir que à beira desistia
nas galerias do céu fui devorar poesia
na secura da boca, de um rosto matinal
precisava caminhar, andar num velocípede
cheirar em meu redor as ervas infinitas
ao longe a propagar-se, o riso das meninas
e rapazes, numa pândega de quadrúpedes.
Cancelei as férias, desisti rumar ao sul
magotes, multidões não são aconselháveis
na altura que nos chamam feitos intratáveis
só preciso de papel, caneta, um raio de sol
tornei-me Príncipe das Trevas intratável
bicho da seda que tece solidões
ando a plantar tornados, vendavais, tufões
criando uma atmosfera quente fria instável
tornei-me igual ao mar, e os ventos, esses ventos
gritam-nos memórias absurdas nos ouvidos
de batalhas sangrentas de opostos partidos
com ambições funestas, magros sentimentos
como querem que explique a crise racial
na América, se existe crise agora em mim
em tudo há um mal um bem início meio e fim
mas este fim que tarda em mim é visceral
preocupa-me mais o ritmo cardíaco
do poema de planície que a nada me sabe
pode ser que o nada mo termine mo acabe
com rosto trocista e olhos demoníacos.
descobri a madressilva de flor adocicada
esmago-a em minha mão, logo um perfume
que me esmaga, tortura, no costume
ser uma espécie de autoridade tributária
relaxo, respiro, inalo o ar poeirento
há mais de uma semana a casa não respira
com sentido de humor, a árvore que suspira
parece que declama versos sumarentos.
fracos foram sempre meus dotes artísticos
Ó musa que eras tu douta ansiedade
estimulavas-me a memória na verdade
dos versos nocturnos sóbrios e cítricos
houve quem dissesse que tinha talento
como na Servidão Humana que o pintor
não por ser génio mais pintava por amor
Afortunado o esboça e pinta um sentimento.
a tristeza confunde-se mágoa dolorosa
gostava que por mim falasse o poema triste
glóbulo branco que do corpo não desiste
lembrando documente o reinado da rosa.