Negócios
Janeiro 19, 2018
Ao Carrudo, ao Costinha, ao Guifes...
Não quis que fosse poema este que vos escrevo
(acaba de sair a alegre mamalhuda)
e tive essa vontade de escrever-vos membro
dessa amizade imensa, estável e carruda
e assim eu dei por mim a reunir palavras
legítimas na minha amada servidão
que algumas juntas dão-me coisas muito parvas
mas soltas aos amigos cantam solidão.
que é solidão que sinto por não ter-vos perto
a rir e a fazer rir, o riso é uma benção
iguais aqueles lapsos escritos no caderno
que em miúdo eu anotava tudo. Agora esqueçam
não sei quanto a vocês mas penso muito nisto
que vamos já a meio da longa jornada
e a dúvida íntima resume-se a isto
se há boi hercúleo em mim que inverta esta tourada
tourada acatar ordens dadas por idiotas
e dedicar-me a tempo inteiro à idiotice
e ouvir clichés foleiros como “um par de botas”
“sair de zonas de conforto” e outras paneleirices
de lençol bem torcido e escudo de almofada
eu luto contra quem me quer a alma infecta
porque foram princesas num conto de fadas
que dão fodas a menos por quem eu defeco
gostava não sentir o pânico das horas
em cada tique taque ouvir essa pergunta
Pungente, sensual: “que queres tu agora
da vida?”, e sentir que a vontade é defunta
o Guifes luta tanto, tanto, incansável
à procura dum porto artístico, inseguro
tornou-se da comédia amante inseparável
por não querer viver mais nesta noite escura
Carrudo, tu que observas com visão da águia
que ao longe a presa vês, serás capaz de ver
se queres continuar ser peixe fora de água
estou certo que outra coisa tu gostavas ser
simplifiquemos essas ânsias de negócio
confesso, não me puxa o risco, sou cobarde
eu não me vejo a ser dos meus amigos sócio
antes que sejam só amigos sem alarde