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Outubro 25, 2016
Corrompe-me por dentro esta mágoa de vidro
Das coisas que supus que fossem diferentes
O amor é impulsivo, iguala o assassino
Como o tigre tritura a carne entre os dentes.
No século vinte e um, a mágoa é uma tortura
Diz-se da ansiedade ser fatal mortífera
O amor sucumbe novo, o ódio, esse perdura
Cede e desvanece a amizade infrutífera.
Há lobos na cidade em luxuosas casas
Mas nunca passam tempo a contemplar o lar
Porque se lançam sempre em perigosas caças
A culpa é da gula impossível saciar.
Por isso inventam histórias de deuses, messias
Que virão sossegar quem vive em desassossego
A luz do Oriente é fogo de artilharias
A marca do Ocidente é ferrugem do ferro.
Não sei se é deste céu vestido cor do luto
Ou do pavor da morte que me encolhe a vida
Ou do sabor que tem o tempo quase mudo
Cada vez mais silêncio bebo antes da ida
Uma devassa orgia digna de pinturas
Dessas ébrias nações que vivem como reis
A derramarem vinho sobre as sepulturas
A urinarem loucos sobre as sábias leis.