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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

Notícias

Julho 06, 2016

Tão longe o homem está da perfeição:

Por onde Deus andava nesta altura

Deixou que fosses alvo de violação

Menina inocente, virgem, pura?

 

À bruta se rebenta na oração

À faca a luz se rasga em noite obscura

À bomba bombardeia-se a razão

Que as mãos dá à barbárie, à loucura.

 

O mal não dorme, O bem, esse Amor cego

Vazio no seu lírico discurso

Sorri, extasiado de prazer

 

Coloco sal na ferida pois carrego

Contendo este meu franco e fraco impulso

Já muito antigo, ó Morte, que é sofrer

Espelho

Julho 06, 2016

Infante da preguiça, do cansaço

Amante da música, da poesia

Honesto gato, manso em teu regaço

À escuta do piar da cotovia,

 

Incauto desse mal que move o mundo

Inquieto nesse verso em fundo espaço

Incerto a mergulhar no ser profundo

Arauto do perigo em corda de aço,

 

Abrigo com lareira, spa, jacúzi

Amigo de ninguém, de toda a gente

Fiel à Lua, ao sol, ao céu, às estrelas

 

Versos, meus diamantes, lápis lazúli

Paixão só por quem sofre, ama e sente

E os anos são quarenta caravelas

Um gato

Julho 05, 2016

E se adoptasse um gato orfão na minha alma,

Transpondo os altos muros, ágil e felino

E caçasse ratinhos, pássaros e calma

E mos trouxesse intactos como o meu destino?

 

E se adoptasse um gato só por companhia

Como um idoso adopta o dominó na Morte

E no sótão caçasse versos? Dar-lhe-ia

Um peixe saboroso que lhe coube em sorte

 

Selvagem, meu gatinho, dúctil na imagem

Dormirás no meu colo, eu te afagarei

O teu lustroso pêlo e serás a paisagem

Que numa tela absurda e gasta te encontrei.

 

Teus olhos são as portas que abri-las desejo

É lá que avaro guardas jóias, alma vendida.

Há armadilhas esparsas, veneno e queijo

Cautela! Coloquei aos ratos desta vida

 

Serás meu guardião, como no antigo Egipto

Quando eras divindade, ai de quem te matasse

E esse miar será um bálsamo que grito

Onde tua cauda nunca de ira se agitasse.

 

Acusam-te que és falso, esquivo, traiçoeiro

Porque não és submisso à vontade humana

Indómito, sincero és bem mais verdadeiro

Que os homens nesta vida inútil, torpe, insana.

 

Em fúria, exibirás tuas garras em defesa

Da alma. Lembras-te? Assim vieste a mim parar

E possas desferir teus golpes com frieza

E essas bestas e abutres da vida esquartejar.

 

Se deflagrar um fogo que por nada dei

Vem dar o teu alerta num miar aflito

Que eu, com mágoas antigas, logo extinguirei

O fogo posto por algum anjo maldito

No Verão

Julho 05, 2016

O cheiro quente quente dos pinheiros

Que o vento traz da serra no Verão

Os troncos desnudados dos sobreiros

São saudades que ardem no coração,

 

E os braços estendidos dos loureiros

Aos raios do Sol profunda tentação

Inspiram-me estes versos estrangeiros

Que vão além-fronteiras na ilusão.

 

Ao Sol, tudo arde enfim, tudo se abrasa

Nada lhe escapa, aos seus dedos fogosos

Tornando o ar um óleo que sufoca

 

À janela do meu lar, da minha casa

Lembrando quentes dias rigorosos

Deu-me a memória um beijo em minha boca

Sou nada

Julho 01, 2016

Não vejo um palmo à frente do nariz

Meus olhos andam postos no infinito

Meu rosto espelha pânico, conflito

Na escolha ser poeta, ou ser feliz

 

Ando a desatar nós que eu próprio fiz

E os versos sacudidos que no ar agito

São convulsões dum pássaro que grito

Num quadro preto, o branco pó do giz.

 

Não sou moldável plasticina ou barro

Nem combustível que alimente um carro

Incompatível no universo inteiro

 

Sou vago, como a luz que a vela dá

Inútil especiaria que não há

Serei sempre o que, em nada, foi pioneiro

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