Violoncelo
Outubro 30, 2012
Amo quem tem música no coração
Quem nos olha e penetra,
Nos revela uma mentira
E nos banha de verdade.
Amo quem nos sabe de cor,
Sem nos conhecer, olhando-nos
Esventrando desejos se olhamos com desdém
Amo quem dos seus olhos nasce uma aurora
E dos seus olhos imutáveis,
Sem tremeluzerem de pânico ou tristeza
Choram verdes folhas de árvores e cânticos das aves,
Amo quem me dispa,
Que descubra sorrisos soterrados
Banidos, contidos no coração,
Amo quem espalha a frescura
Matinal de manhãs de outono
Lavadas com borrifos de orvalho refrescante.
Amo quem nos olha das alturas
Quem não duvida sequer do que somos
Que desconfia também do que não somos
Que nos revela a verdade diluída na mentira
E descobre ciências e bibliotecas fechadas
De noite, quando os astros meditam silenciosos
No céu incerto dos apaixonados.
Amo quem lê, quem escreve, quem sente
Quem fica acordado de noite a tocar
O violoncelo do corpo com mãos pálidas mãos macias
Como se a voz grave, triste e solitária fosse porta voz dum povo oprimido.
Ó escrutínio demasiado doloroso do meu próprio ser,
Ó solidão constante, demente e cortante,
Ó amor meu, minha razão, minha loucura
Canto-te em espírito sem mover palavras
Sem divagações nocturnas do meu cérebro exausto
Ofereço-te uma flor nascida no jardim,
Onde cresceu junto do meu quase túmulo
como a música dos parabéns...