Meu El Dorado
Dezembro 26, 2011
Que pena! esqueceram-se de me lembrar,
que mais tarde haveria de sentir solidões de séculos,
De reis justos, rodeados de abutres,
De mães trémulas, mulheres inabaláveis,
esqueceram-se de me dizer que o desespero,
mora à saída de casa, se nos esquecemos,
da infância em cima da mesa
De quem fomos no bolso do casaco
e então, como um comboio invisível viesse,
de encontro ao nosso corpo falível,
esqueceram-se de me dizer que é inevitável,
Perdermo-nos dia e noite dia e noite,
Numa surpresa de frio de navalha,
À espera que degolem o universo inteiro
Dessa tristeza absurda
E no fundo, lá bem no fundo,
é uma alegria secreta descobrirmos uma Orion,
Num lugar de gente, mar de cinza e pó,
Num planeta decrescente e decadente,
De ares condicionados e conversas pavorosas,
Onde forçados ouvimos o silvo de áspides,
que a cada dentada se alimentam desse nada
Tão vago como definir a felicidade em vida.
deixai-me ser infeliz à minha maneira,
Que meu corpo é uma máscara de Veneza
Pois que meu El Dorado será descoberto e visto
quem olhar meu coração com olhos de veludo