Ainda ontem consegui conter meu riso,
Ao ver triste figura onde ia no caminho,
Desesperado andava a ver se me afinava
Lanterna na palavra, luz do meu destino.
Partiu minha princesa, ruiu o meu castelo,
bem sei que só palavras punha no papel,
Amarrotado e triste meu coração tem,
Erguida, inatingível torre de Babel...
Dói tanto em vão saber que não mais poderei,
Deitar-me nos seus olhos, prados verdejantes
Deitado, a soluçar, meu corpo é como a folha,
Que se apercebe ser mutante entre mutantes.
Acorda, eis que a cidade iluminada tem,
Mil olhos, mil luzes de falsas estrelas,
vieram-me dar cor à solidão que vem
Vestida de veludo, visitar a minha cela.
Que digo? eu já não sei. Ao menos não me entrego,
ao mundo de licores e alucinações,
Que mania e vaidade pensarmos quem mais sofre
O nosso coração mais que mil corações.
Meu coração doente, ébrio, vem sentar-se
Num jardim, um velhote resignado e só,
Mergulhando no mar glorioso do passado,
Suspira por saber que em breve será pó.
Sou aqueles prédios em ruínas degredados,
Um peão sem corda, uma caneta sem tinta,
Mergulho nos meus versos ríspidos, truncados
Será que morrerei na casa dos trinta?
Acordo, a manhã sobe como um plúmbeo veu,
Nem a chuva me incomoda, só saber que estive,
à beira do abismo, ser feliz e sóbrio,
Só mesmo quem não teme é que no mundo vive.
Ó gente sofredora que abafa um queixume,
De olhos inflamadas de noites em choro,
Ó rio do meu martírio nascido de um lírio,
que não mais regarei, sou água que evaporo,
amantes que ridículos falam-me de amor,
Quando esse amor vendido é fruto da mentira
Movesse as montanhas de solidão perene
Meu modo de viver melhor sustentaria.
que vale em vão sofrer, num canto, Às Escondidas
ao menos fosse um rio, ao menos fosse flor,
Trazei-me vinho e ar, deixai-me ser fantasma
A um canto numa mesa divagarei de amor...
castelo de areia à beira mar não dura,
Nem pegadas de flores, zumbidos de abelha
No ar, duram mais igrejas, catedrais,
As pedras duram mais que mil rosas vermelhas