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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

Desfeito em pó

Novembro 22, 2011

Se em vez de um vendedor,
de enciclopédias, viesse
Alguém bater-me à porta
Com um beijo me detivesse

Se em vez de uma palavra,
Viesse erótico um beijo,
eu abriria as portas,
De imediato ao meu desejo

Se em vez de uma má notícia
Viesse a boa nova,
De liberdade crescente
Para vir-me pôr à prova,

E posto à prova desse
Meu amor imenso e forte,
e pudesse também beijar,
beijar de Sul a Norte...

Se em vez de uma doença,
Me viesse uma enfermeira,
curar minha loucura
e deitar-se à minha beira.

Abro os olhos, ninguém vejo,
Ao meu lado, a noite só,
Vejo então a desfazer-se,
Meu desejo em ar e pó...

Deitado Numa Cama de Espinhos

Novembro 16, 2011

Ainda ontem consegui conter meu riso,

Ao ver triste figura onde ia no caminho,

Desesperado andava a ver se me afinava

Lanterna na palavra, luz do meu destino.

 

Partiu minha princesa, ruiu o meu castelo,

bem sei que só palavras punha no papel,

Amarrotado e triste meu coração tem,

Erguida, inatingível torre de Babel...

 

Dói tanto em vão saber que não mais poderei,

Deitar-me nos seus olhos, prados verdejantes

Deitado, a soluçar, meu corpo é como a folha,

Que se apercebe ser mutante entre mutantes.

 

Acorda, eis que a cidade iluminada tem,

Mil olhos, mil luzes de falsas estrelas,

vieram-me dar cor à solidão que vem

Vestida de veludo, visitar a minha cela.

 

Que digo? eu já não sei. Ao menos não me entrego,

ao mundo de licores e alucinações,

Que mania e vaidade pensarmos quem mais sofre

O nosso coração mais que mil corações.

 

Meu coração doente, ébrio, vem sentar-se

Num jardim, um velhote resignado e só,

Mergulhando no mar glorioso do passado,

Suspira por saber que em breve será pó.

 

Sou aqueles prédios em ruínas degredados,

Um peão sem corda, uma caneta sem tinta,

Mergulho nos meus versos ríspidos, truncados

Será que morrerei na casa dos trinta?

 

Acordo, a manhã sobe como um plúmbeo veu,

Nem a chuva me incomoda, só saber que estive,

à beira do abismo, ser feliz e sóbrio,

Só mesmo quem não teme é que no mundo vive. 

 

Ó gente sofredora que abafa um queixume,

De olhos inflamadas de noites em choro,

Ó rio do meu martírio nascido de um lírio,

que não mais regarei, sou água que evaporo,

 

amantes que ridículos falam-me de amor,

Quando esse amor vendido é fruto da mentira

Movesse as montanhas de solidão perene

Meu modo de viver melhor sustentaria.

 

que vale em vão sofrer, num canto, Às Escondidas

ao menos fosse um rio, ao menos fosse flor,

Trazei-me vinho e ar, deixai-me ser fantasma

A um canto numa mesa divagarei de amor...

 

castelo de areia à beira mar não dura,

Nem pegadas de flores, zumbidos de abelha

No ar, duram mais igrejas, catedrais,

As pedras duram mais que mil rosas vermelhas

O vencer dos corvos

Novembro 14, 2011

Já nem sequer te encontro nas palavras,

Mas encontro o teu rosto a erguer-se

como a Lua suspensa prateada e fatal.

Meu coração arrasta-se, sangue pisado

Coberto de bandos esparsos de corvos, meus pensamentos,

Vieram pousar em mim soturnos e viúvos,

Da vida, para me lembrar que não te vejo,

da Morte, para me levarem com eles um dia.

Escrevi versos chorosos com lágrimas de sangue,

escreverei relutante como se meu coração,

Fossem estas palavras lançadas ao abismo.

E não cheguei a contar-te,

Mas no dia da partida vi um pombo,

voando, na gélida manhã do adeus,

embatendo na fachada do prédio onde dormi,

e aquela praça, onde ouvimos ainda os gemidos,

dos que morreram heróicos por liberdade,

Caiu-me em cima de mim como a resolução do mistério.

Já sou cinzas antes da derradeira hora,

já sou choro dos entes queridos,

Rosas e lírios pálidos, desmaiados em mim,

E sou o fantasma, corpo sem alma,

Garrafa de plástico boiando nas águas,

Na culpa inútil de coisa nenhuma,

Desde que não mais me deitei no prado dos teus olhos,

tornei-me sombra sem árvore ao sol,

E avanço infeliz como alguem cego que vê,

Porque essa luz que me deste extigui-se,

Antes de saber se tornaria a iluminar,

O templo da minha vida...

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