Meu coração às vezes chora,
Como geme a guitarra portuguesa,
Numa dada altura, numa dada hora,
Cheio de violência inglesa,
E é tal o encanto, tal a grandeza,
De ser gente, de ser frágil,
Que num dado momento,
Mais veloz que o pensamento,
A Morte vem cruel e ágil.
Mas que me importa a morte,
Pois que me entrego à sorte,
De ter Deus em carne e osso
No fundo do meu coração,
Que no fundo é mais um poço,
Longe da verdade,
E da Razão…
E como uma aldeia em festa,
Cheia de luzes e barulho
De música e vinho derramado
Eu canto e vivo embriagado
O meu coração sem orgulho
Sabe a morango, o toque suave, a gelatina
Melosa equilibrada pela mão que tem
O seio prometido da musa divina
Ditando húmidos versos que na mão derretem.
Comido como insecto por planta carnívora,
Sem língua, ou quente boca dentro da colmeia,
Devora-me, abraça-me, pica-me qual víbora
Enterra-me na tua praia de rósea areia.
Esse “V” de vitória é uma colina verde
Ponho a mochila às costas, faço-me ao caminho,
Chita veloz o tempo, o tempo que se perde
És meu sagrado templo, o meu sagrado vinho.
Pousa no chão o fardo um pouco, devagar,
As minhas mãos dissipam doridas tensões
E quando for para sul, tu irás naufragar,
Na ilha que criei, com árvores tentações.
Há grutas e cavernas, húmidas, exóticas
A areia é de brancura igual à linda Diana
Se ela vem masturbar-se ao ler histórias eróticas
Deixando de ser deusa para ser humana.
Vi-a tactear o seio, ao folhear meu livro,
De poemas proscritos guardados na gaveta,
E num lácteo murmúrio, disse-me ao ouvido
“Não pares de escrever. Virei ler-te, poeta”
“Pois que meu corpo gela à noite se sozinha
Caminho quando entorno o meu branco luar
Às vezes dou trabalho ao dedo que adivinha
Para tanger a lira e fazê-la vibrar.”
“Sinto o meu corpo frio às vezes em tumulto,
Todo o calor da terra não é o bastante
Escreve mais poeta que me soe a insulto,
Livra-te que meu seio não fique ofegante.”
Por isso amo a nudez dos corpos enredados
De ouvir filhos da noite amarem-se em segredo
Ouvi, belas donzelas, corpos encaixados
Dum prazer infinito que não mete medo.
Das curvas, dos contornos, dos ângulos estreitos
Dos mornos orifícios que têm muita luz
Dos sexos conjugados e sem preconceitos
As mágoas e tristeza a cinzas reduz.
Da firmeza do corpo à firmeza do sexo,
No sal a misturar-se na seda ou cetim
Da borboleta leve ao tornado complexo
Eu nunca hei-de escrever neste episódio FIM
Goza a tua beleza, mulher vistosa, goza bem Faz dos nossos corações de cristal e vidro, Quebrando-os, na ignorância de mãe, Que abandonara o filho, nas ruas, perdido. Planta o dissabor como quem escreve poemas De amor, e por quem lidos julga ser amor Por mais que alguém escolhas, o lemas dos lemas, É ser deusa no Olimpo, ídolo que dá dor Pedi aos céus que ao sangue um fluído natural, Tu que és um cisne branco e alma de falcão, Espalha tua semente, germe do teu mal, E que eu esteja bem longe do teu coração. Tua boca, buraco negro, abismo fundo, Que um corpo amas mas cega estás longe do ser Não sigas o meu rastro e pede quem no mundo Usa máscara no amor, e quer de ti prazer
Minha fraqueza chega a ser maior que os homens,
Loucuras, devaneios, impossíveis sonhos,
Dizem que meu olhar é meigo, açucarado
Como se fossem olhos de monstros medonhos.
Às vezes a tristeza invade-me e rebenta
Espalham-me a sua tinta de caneta preta,
Que ao sol, muito aquecera, ou foi alma banida,
Por não servir o punho do melhor poeta.
Tenho vivido flashes, espasmo digitais,
Como grandes descargas de electricidade
Tenho vícios nefastos, ânsias descomunais,
Como hábitos de Buda em busca da verdade.
Um rosto iluminado por sorriso branco
Conquista mesmo falso o mundo inteiro imundo
E eu que escrevo versos sentado num banco
Parece que não digo nada num segundo.
Ignoro a vida como o acordo ortográfico,
Finjo que nada ouvi, escrevo como me apetece
Na incerteza infindável rumo ao azul celeste
Eu grito aos mudos céus… mas nada me acontece
São praias e prazeres, portas por abrir
Escravos por libertar, corruptos por prender,
Se o mundo fosse bom, não precisava ir
Ao fundo de mim próprio e seria um prazer
Sou frequência de rádio que ninguém apanha,
Melhor, eu ouvirei o repicar dos sinos,
Apoio o cotovelo nas terras de Espanha
Lançando ao mar os planos que fiz do destino.
Fora de mim eu vibro, eu vivo, puro instinto
Interrogar condena o andar do meu querer
Fora de moda, sou ruínas de Corinto
Fora do tempo eu posso ser o que quiser
Quem vem atrás de mim? Ninguém me siga:
Sou como um mau exemplo a não seguir
Meu bem é só meu corpo a decair
Num túmulo… só a sombra lá se abriga
Sou perigo na armadilha que se liga,
Ao chão de boca aberta, a cova funda
Sou Titanic que no mar se afunda
Porque no amor não caio na cantiga.
Sou moeda fora de circulação,
Talvez não tenha mesmo coração,
Por não dizer que te amo como um louco
Porém, por que te afastas mais de mim,
Escrevo com sangue no meu peito FIM,
Pois esse amor falado sabe a pouco
Esta música trouxe-me um punhal agudo,
De nostalgia,
Fere-me como se me abrisse ao meio
E me descobrisse,
Estende-me a asa de cera para que me aproxime,
Mais do sol ardente…
Quanto, e custa invocar músicas adormecidas,
Em quartos de hotel,
Escuros, na memória que nos hospeda sem repouso
Num quarto impossível,
Assegurando-nos que um dia seremos folhas soltas
Frágeis e esquecidas
Quanto esta música dói ouvi-la como ver alguém,
Que nos magoara muito
Um amor antigo, uma sombra, um espinho
De rosa ensanguentada,
Escavando-nos um fosso à espera que as lágrimas,
Rolem tristes pelas faces…
Ó tempo, quanto nos custa, olhar pelo ombro
Seguindo tuas pegadas,
Sentindo formar-se um frio na barriga,
De sabres e floretes
De geada matinal quando me lembro,
Que jamais se pode voltar