Dedico-me à vaidade dum sonho impossível, Absorto, inútil, vago vejo-me partir Na gaivota trocista planando suave, incrível, Que a olhar pra mim se põe a rir, a rir, a rir...
Estou numa plataforma à espera do comboio. Vontade de perdê-lo, deixá-lo ir embora, Meu rosto perde a cor, empalideço, morro Olho o relógio, o sol, ainda não é minha hora.
Embrenho-me na flora humana, a fina flor Sente-se o cansaço a transbordar nos rostos gostava ouvir por dentro a fluidez do sangue, O amargo digerir diário dos desgostos
Procuro o meu lugar ao sol e protegido Procuro abstrair-me dos meus pensamentos, Zumbem como abelhas, vespas, retraído, Escolho um lugar distante dos meus sentimentos
O rio quedo e mudo, as águas estão paradas, Vejo-as num relance, quando avanço, enfim, Parece um óleo espesso como águas passadas, Que não se encontram fundo nem sequer um fim
Senta-se à minha frente a rapariga loira Seus olhos azuis brilham cheios de ilusão, Prefiro não olhar, criar-lhe desconforto Porque sei ver as coisas com o coração.
O delírio do comboio quando abrem as portas, O atropelar de gente, o pânico perder, A nossa estação, de folhas secas, mortas, Não vá ficar num banco o meu fútil querer