Um fio de esperma percorre-me o sexo, Como a ávida serpente no amplo jardim E o desejo contido, imenso, desconexo É como uma mulher que se ama e pensa em mim.
Ainda não te disse, onde guardo o interesse, Não caberá num verso escrito num poema, Guardo como um beijo contido onde pudesse, Escavar a terra imune, livre, sem dilema.
Dilúvio! Encharco a rosa, vejo claramente A alvura do sorriso no teu rosto lindo, Sentindo que te amava nua em minha mente, Como um vento vindo suave e bem-vindo.
Gostava que teu corpo fosse meu papel, Onde escrevesse cândidos e obscenos versos, E a tinta e o tinteiro fosse o teu vergel Molhado, por meus beijos longos e perversos.
Tu nunca me viste, estarão teus olhos baços? Terás os lábios secos das bocas incertas Queria arrebatar-te com beijos e abraços, Como um naturalista em ti, às descobertas.
Parti a toda a brida, ó versos meus! Parti Corcéis, dedos e mãos, meus lábios de cereja E quando forem lidos, por quem nunca vi Entrai no Éden proibido como ela deseja.
E se a Musa levar inconsciente, a mão ao seio e remexê-lo oculto na camisa É porque semeei um beijo no coração, E entrei no templo antigo onde ela é Pitonisa.
E se um rubor rosado quente lhe tingir O seu rosto querido então gritai: «vitória!» Se houver um diamante no olhar a refulgir Então celebre-se hoje o dia desta Glória!
Há quem apodreça antes de apodrecer, E viva numa hora mais que a vida inteira, Minha missão é dar-te versos de prazer Para sentir-te perto, real e verdadeira
E com meiguice a mão deslize e acaricie, Teu sexo húmido e meta um dedo de conversa E a tua alma se amplie, goze, se delicie E fiques neste mar erótico submersa.
E como trepadeiras crescem nas paredes, Dos teus pés à cabeça subam ansiedades Queria sossegar-te, assim como me pedes, Para que no teu corpo escreva mil verdades.
E sinta em ti um mar revolto, tumultuoso, Coberto pela bruma densa, insuportável, No teu corpo me sinto um barco corajoso, Sulcando as altas ondas do corpo adorável
Desabrochada como a túlipa de Holanda, De pétalas abertas como um livro aberto, Folheio-te, curioso, com a mão que anda No teu corpo vencendo o teu corpo deserto
Estende-se o teu corpo de Lua na praia Como um lençol azul estendido sobre a terra, Como isolada ilha usando apenas saia Desnuda como a praia amando a verde serra.
Sinto quase o toque do teu lago ardente, Como um anel de fogo preso no meu dedo Afoga-me nas águas no teu corpo quente, Até romper o dia e o sol banhar-nos cedo.
Serei um criminoso? Diz-me, sê juíza, Eu cumprirei a pena que me destinares, Ordena-me que sinta mais tua pele lisa. Amo as blandícias doces dos preliminares.
Vem sentar-te em cima da minha erecção, Sente-me; seguro-te como a minha vida, Vem descompassar-me o ritmo ao coração, como a amazona firme, tesa e destemida
Vem, que tu encerras no teu peito lindo volúpias promissoras de haver Carnaval Sê vento do Norte que solta sorrindo Imprecações ao Bem e exaltações ao Mal!
E numa ardência alheia às vidas paralelas, Amemo-nos nos becos do silêncio de ouro, Sê meu oceano vasto, eu serei caravelas, Para levar-te à boca a luz do meu tesouro.
E como derramando de Baco seu licor, Num copo de cristal com boca aberta, vem Beber o doce vinho das vinhas do amor E juntos nosso lábios encontrem-se no Além