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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

Adeus, 2010!

Dezembro 31, 2010

Cada ano é um navio que parte

Rumando ao mar do passado,

Do cais, aceno sem arte,

A mais um navio largado

Com a saudade acompanho-o,

Como se fosse a gaivota

Voando esse mar estranho

Que a minha alma é devota.

 

Mais um ano me sorriu

Do cais da vida que vivo

Mais um rosto que partiu,

Saudoso por ser festivo

E assim eu sou marinheiro,

Que esse mar quer navegar

Sonhando ser o primeiro,

À terra do nunca chegar.

 

O cheiro da maresia,

É a saudade que tenho,

Lembrando, dia após dia,

Que a vida é um sonho estranho,

Despeço-me, calmamente

Por entre a chuva cantando

E fixo o olhar no presente

Que outro ano me vem mirando

Pesadelos

Dezembro 09, 2010

Estranha sensação não me sentir presente

Pastoso pesadelo, a vida, vago sonho

Adormecido num papel de cor ausente,

O medo enverga luto, cínico e risonho.

 

Meus sonhos são cavernas, grutas sepulcrais,

Com tectos povoados por negros morcegos,

E movediço o chão tem pedras ancestrais

Onde prosperam cobras sem ricos empregos.

 

Sentado, sonhador, como um farol no mar

Meus olhos perdem brilhos de sonhos antigos

Sinto ser canção que ninguém quer escutar

E meus sentidos são terríveis inimigos.

 

O pavor de sentir as horas a voarem

Como o vento varrendo folhas e papéis

Sorrio, ouvindo as folhas no chão cantarolarem

como se contemplasse o Senhor dos Anéis.

 

Dentro de mim existe um Vesúvio sinistro,

Tornando os campos férteis da imaginação

Ando à procura de algo pra sentir-me vivo

Não sei se nesta vida... ou numa ilusão.

 

Loucura, enche meu copo com amargo vinho

Amanhã acordarei com flores na cabeça,

Brindemos ao orgulho de ser e estar sozinho

E serve-me o destino quente na travessa.

 

Avanço, mais um dia na roleta russa

Sou bala perdida no vasto universo

Banal e simples sou quem sua alma esmiúça

As ânsias e sementes atiradas em verso.

 

Meus poemas não usarão óculos escuros

Rostos que se cruzam neutros, antipáticos

Cercados por martírios vãos e altos muros

Rostos e rochedos, promontórios extáticos

 

Enlouqueço! Encerro-me num sótão assombroso

Onde em silêncio rugem medo e esquecimento

O vento traz na voz um timbre cavernoso

Onde lançamos sempre mais uma semente

 

Como dias festivos com bandas e balões

como se fosse surdo escuto o que está longe,

A música parece vir em convulsões

como vícios funestos visitando monges.

 

Como espasmos no céu pintados de artifício

Explodem estes versos, loucos, alusivos

À ansiedade fútil, meu mortal suplício

Que o espírito me tenta com lábios lascivos.

 

Quem és, dama de ferro, que meu coração

Transforma num cavalo à solta pelo prado?

Serás libido ou fúria, pura insatisfação

Vestida com a cor vermelha do pecado?

 

E arrancas com violência as rosas da roseira

E derrubas ciprestes, guardiães de martírios

E roubas-me os frutos da linda amendoeira

Onde me nascem flores de íntimos delírios?

 

Possa invocar sereno a calma que me falta

Salvar antúrios mil dos meus jardins secretos,

Fazer ouvidos mudos aos ódios que exaltam

Para que não assustem meus morcegos pretos

 

A minha língua quer falar mas não consegue

Como querer andar num sonho sem sucesso

Empalideço! Subo ao palco, e o que se segue

é meu mundo em ruínas, virado do avesso.

 

E de repente vejo um fio de sangue rubro

Um golpe traçoeiro do desconhecido

A faca que golpeia o Verão no mês Outubro

Numa rixa entre mim e o Outono envolvido…

No Inverno

Dezembro 06, 2010

No Inverno, a noite cai numa cascata,

Se o sol é fino de ouro, as sombras esguias

Entre as folhagens verdes são enguias,

E a Lua ergue-se como uma novata,

 

No início ergue-se tímida, macilenta

E eu, imberbe e fútil no meu verso,

Subindo a rua do reino submerso,

Pergunto o que me move e me sustenta.

 

Disseram-me que estava igual. Não sei,

Hoje sou incapaz de comparar-me,

Como outro que fui e que não sou,

 

Que importa? Se no meu reino sou rei

Mesmo que a Morte venha desarmar-me,

De vida, outro sou que o tempo levou

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