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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

Soneto à Lua

Fevereiro 24, 2010

O teu sorriso claro me parece

A luz que do teu nome à noite espalha

A Lua, nas alturas aparece,

Como aparecendo muito me embaralha,

 

Tamanha formosura num só ser

Foste abençoada pela Natureza,

Que à janela me debruço para ver

Teu lindo rosto, rainha da Beleza.

 

Quem sou? Não faças caso. O meu ofício

Em vida, é enaltecer as coisas belas

E metê-las na caixa do coração;

 

Que em vida traz-me um alto benefício,

Como à noite, unir os pontos das estrelas

E escrever no céu LUNA, a aparição.

 

Repetições

Fevereiro 23, 2010

Eu ando aos encontrões com mil metáforas,

Metia antes um cesto na cabeça

E de colhê-las tinha muita pressa

Mas soam-me somente a mil anáforas.

 

Repetições, iguais aos lassos dias,

O céu, ciumento, enconbre o astro rei

Há coisas que sabia e já não sei,

Sou profeta sem dizer profecias.

 

Sou qualquer coisa que caíra do céu,

Granizo, neve, chuva, ou gota de água,

Banhei a terra com sentida mágoa,

Que nenhum bem gerou nem floresceu.

 

Eu erro no silêncio insustentável

Das livrarias, e nas prateleiras

Encontro livros, línguas e fronteiras

Tentando contornar o incontornável.

 

Basta-me abrir as páginas de alguém,

Pra ver que não fui feito para tal,

E a cisma insuportável é meu mal

Cresce-me esta flor do mal também.

 

Drenou-me o tempo a fúria de escolher,

Entre ser mais que eu próprio numa altura,

Que escolhera escavar a sepultura

Onde florescem rosas sem se ver.

 

Longo epitáfio, o meu. Há quem insista,

Que apostar deva nesta vã carreira

De ser-se escravo até chegar à beira

Do abismo. Querem que de mim desista.

 

Não pode fora de água o peixe andar,

No mar, da rapina águias, falcões,

Na cidade, sobrevoarem gaviões.

Se voassem, o que teriam pra caçar?

 

Nasci numa atmosfera musical

Acolheram-me pianos e violas,

Trompetes e fagotes e pistolas

Fortes raízes do meu doce mal.

 

A minha pauta é o amplo céu azul;

Por ocas nuvens, vejo-o encoberto

E a melodia soa-me ao deserto,

Que na minha alma existe mais a Sul.

 

Ó nuvem ancestral do meu destino,

Mudam-se os ventos, mas fica-se igual,

Ó mundo gigantesco triunfal,

Fazeis sentir-me um miúdo pequenino.

 

Clarões ao longe, sinto aproximar-se,

A tempestade. Correm diligentes,

Negras nuvens mostram afiados dentes

Trovão! É a borrasca a preparar-se.

 

Como o entediante dia. Meus trovões

Bocejos soltos da fatal preguiça

De gladiador que, antes de entrar na liça,

Perfura com seus versos corações.

 

Que hei-de fazer? Eu penso tantas vezes

Pintar a desbotada e plúmbea tela,

Grotesca, convertê-la em coisa bela

Como um Ronaldo amado por ingleses.

 

Saudades, meus amigos, vossas tenho

Rasgam-me a pele com garras afiadas,

Bem sei que estais com vossas bem amadas,

Sinto-me só no mundo um pouco estranho.

 

Tal hobbit entre gente tão crescida,

Que as coisas foram feitas não pra eles,

Sou pele azul entre variadas peles

Escarpada e íngreme é-me qualquer subida.

 

Ah do condor não ter, a envergadura,

Das amplas asas, voar e desfalecer,

Até sentir o sol quente bater

Nas faces, névoa oculta de ternura.

 

Na poética lembrança há no meu peito,

Músicas por transpô-las para o céu.

Que glória insiste? Ignoro! Só me deu

Ter tempo, tal Cesário, ser perfeito.

 

Janela que olha igual sempre esta imagem,

Fechado num cubículo medonho,

de tédio, campo inútil do meu sonho,

Que primitiva e enfadonha paisagem!

 

Nem se ouve vir da igreja o sino a rir-se,

Rasgando o silêncio hora a hora

É a chuva copiosa que namora,

É minha esperança a demitir-se.

 

Eu posso despedir-me se esse for,

O meu desejo, mas que espessa sombra

Ter outra vida noutra vida assombra,

Qualquer mortal que sofre por amor.

 

Como um chapéu filtrando os apolíneos

Raios, filtro a vida que me engole

soltando imperceptíveis sons de um fole

Sei de desastres, ruínas e declínios.

 

A sensação andar sempre nas nuvens

O não sobrar tempo pra contemplar,

Inquieta ânsia: partir sem regressar,

São flutuações, amor, que nunca tens.

 

A tortura obrigatória estar presente,

Onde não querem nunca ausente esteja,

Não sobra tempo, nem sequer sobeja

Travar tamanho caos na minha mente.

 

Vivo o presente, contemplo o passado

Olho o futuro com indiferença

Como sentisse do alto uma presença,

Dum ídolo seguido e adorado.

 

Vou dar ao mundo o amor que há nos meus versos

Beijo eloquente em biliões de faces,

Meus versos são felinos, são rapaces

São meigas pombas e tigres perversos.

 

Alegra-te, ó meu ser complexo, instável

Pois beberás a clara luz num dia,

em que te encontres fora da Poesia

Triunfante num dia desfavorável.

 

Meu pai bem me dissera pra dançar,

Consoante a música, sou incapaz

Dançar o que outros não dá paz,

eis por que trilho sempre eu hei-de andar.

 

Cresci. Nem sei que escolhas foram feitas

Mal, por instinto ou fútil intuição,

Sei que meti-me nesta confusão

Amar as coisas belas tão perfeitas.

 

Que seja crime, eu hei-de ser julgado,

Por desperdício ou não da minha vida,

Lenço branco a este poema, a despedida,

Esmoreço, igual, à tarde, o sol dourado.

A espera

Fevereiro 18, 2010

Pobre mulher, flor murcha, ressequida

Por negligentes mãos do esquecimento,

Desperdício antecipado a tua vida

Viver não é pensar um sentimento,

Bem sei que ouso falar do que não sei

Eu, que vivo a pensar sem ter vivido

Ao menos vou dizer-te: já beijei,

Os lábios roxos do desconhecido.

 

Sentir-te morno sal molhar-te as faces,

Rubras quase o pranto ouvir-te posso.

Que tuas mãos macias entrelaces

Com mãos que acariciem teu pescoço,

Tão gasto o chão do quarto como aquele

Rei português num quarto encarcerado,

Oiço-te o arrepio na alva pele,

É o teu desejo a ser silenciado.

Ecos

Fevereiro 18, 2010

Ah sorte, não ser gente, não ser nada,

Na ignorância, incauto livre, ingénuo,

Nocturno sentimento forte e terno,

Guardado no armário da minha amada,

Ah flor que aguardo florescer contente,

A entrada de rompante na minha mente.

 

Que triste sorte ser a margarida,

Que linda e branca, envolve a graça, os olhos,

Crescendo em conjunto, há-as aos molhos

Nos verdejantes campos da minha vida,

Envolve, Arcturo, triste alegre, em bando

Estorninhos versos com quem vou voando.

 

todas as sensações são águas estáveis

dum lago, imagem límpida da infância,

Minha obra poética é cisma, implicância,

Meus versos tem sido muito amáveis,

Pois neles fico como nada houvesse,

Dia de cinza sem que amanhecesse.

 

Uns dizem que são livros bem abertos,

Quando no fundo, ás páginas se fecham,

Logo que tento lê-los, e submersos,

Bóiam no mar. Salvá-los? Não me deixam,

Navio que te afastas desta costa,

Onde me banho e que mais ninguém gosta.

 

Corpo de cobra, alma de andorinha,

O teu sorriso rasga os mil papéis,

Guardo juntamente com pincéis,

Brilharás sempre no céu, estrela rainha

O que me exalta e inspira não me ocorre,

Saber-lhe a origem, sangue que me escorre.

 

O corpo vai-se embora, a alma fica,

Naqueles a quem demos muito amor,

Naqueles a quem demos muita dor

Que nunca um mal antigo prontifica,

Mudar-nos esta mesma condição,

Esqueleto errante dentro da ilusão.

 

Ó duro mármore róseo estátua enorme

Que no túnel escuro vejo diariamente,

O que sentiste quando alguém fremente,

Concebe algo abstracto, algo disforme?

Teu nome é mais um eco no universo,

Meu nome será vento no ar disperso

Boca Seca

Fevereiro 18, 2010

Chego a pensar que triste condição,

A minha, esta louvar um sentimento,

Esta farsa, esta mentira e não tormento

Se verdade, tenho o Caos no coração.

 

Chego a sentir-me um lápis, bico partido,

que quer pintar o branco do papel

Não encontrando afia ou útil cinzel,

Que esculpisse a dor de andar perdido.

 

Tão seco quanto a fonte que deixara,

Apenas uma gota de saudade,

Em cada peito que beber lá ia,

 

Que faço, quando seco, ou enfraqueço,

Ignoro o céu azul da liberdade,

Do amor com que criara Poesia.

'V'

Fevereiro 12, 2010

Um ‘V’ de vitória, vejo à minha frente,

Não é indecente, na planta, na flor,

Na toca, na gruta, conforto de abrigo,

Deixa-me contigo, ser teu beija-flor,

 

Da alcova podemos fazê-la coreto,

Num toque directo, os astros virão

Ouvir a canção tocada em conjunto,

Mistério defunto de eterna paixão.

 

Meus dedos dedilham cem harpas divinas,

Que alegram boninas na espessa verdura

Passeios pedestres com dedos no corpo,

Que do fresco sopro floresce ternura.

 

Eu quero-te, agora, sem adiamentos

Sem planos, tormentos, pró nosso futuro,

Não sejas ausência, se vivo o presente

Que, naturalmente, contigo, me aturo.

 

Que esperas, amor? que a Lua estremeça,

Que o Sol arrefeça para o tempo olhar

O tempo longínquo, passado, lembrando

Que o tempo voando, não torna a voltar.

 

Esquece o que viste! A idade tem sombra

Passada, me assombra, mansão assombrosa

Converte-te orquídea, que brando rocio

Pétala, arrepio, húmida, nervosa.

 

Encurta-me as horas pois longas se tornam,

Que beijos entornam palavras de flauta

De suave brandura, tocadas com arte,

Eu quero abraçar-te, beijar-te sem pauta

 

Eu quero que sejas meu templo sagrado,

Onde, recatado, lá possa louvar-te

De joelhos, melhoro, nossa condição,

Pedindo perdão, ave, por despertar-te.

O Mundo da minha Janela

Fevereiro 11, 2010

A poça de água de óleo, à superfície

Lembra, quando a chuva cessa, o rosto

Do amigo que nos salva, da imundície,

Nos tira agudo espinho do desgosto.

 

Gotas de água, nos ramos das palmeiras,

Invocam a loucura dum pintor

Das cores que aproxima às verdadeiras,

Que à tela branca imprime alto rigor.

 

Se chove, o odor da terra traz-me a infância,

Quando era novo e na rua brincava

Saltava nuvens alvas, na ignorância,

Sorria e esse dia não contava

 

Passas por mim, mulher, deixas-me o rastro

Do perfume colorido, afrodisíaco,

Que eleva o sonho ser somente o astro,

Diamante no teu céu paradisíaco.

 

Criança que me olhas, lembrarei,

Que um dia alguém olhou pra mim, e tu

Serás alvo de alguém, do olhar; estarei

Lívido, insubstancial, na terra, nu.

 

E as coisas envolvem-me; têm bocas

Ditam-me versos, frases que vos deixo,

Ó sádicas mulheres, lindas, loucas

que vos descaia o vosso altivo queixo.

 

Decoro frases cultas nas paredes

Lembrando quem sonhara cá na terra

Beleza em livros belos, matam sedes

Fome, aos que a si declaram dura guerra.

 

A máquina do tempo corre aflita

Tem cores que comigo não condiz

E os anos são velozes como a chita

Que rasga a fulva selva tão feliz.

 

Pensar na morte cria grande incómodo,

Que mais fazer se pode além viver?

Sôfrego, bebo os dias, calmo e cómodo

No confortável lar que inspira ser.

 

Meus versos são os carros que dormitam

Diria serem cúmplices no crime

Ignoro se me seguem, se me imitam

Desejo que o poema me ame e mime

 

Num elegante cisne alvo montado

Nos ares, vento que poeira levanta

Porque desejo apenas ser lembrado

No perigoso mundo que me espanta.

 

Tantas maneiras tenho de viver,

Difícil é escolher melhor entre elas,

Como entre rosas, a rosa escolher

Jardim de variadas flores belas

 

Leio nas mãos as veias azuladas

Levando-as aos ouvidos para ouvir

Correr rios de sangue, águas sagradas

Que imprimam no papel o meu sentir.

 

Como na esgrima escolhe-se o florete,

Espada ou sabre, ao corpo se assemelha

A vida, nas paredes, o verdete

Nas pétalas de rosa, cor vermelha.

 

Os altos prédios com vidrados olhos,

Espelhos, alumínio, pernas de aço,

São frutos, as pessoas, cachos, molhos

que observo, indiferente, quando passo

 

Olhá-los, dá esperança. Sou alguém,

Como se viessem ver-me actuar num palco,

Monumento em ruínas neste além

Paisagem fascinante que decalco.

 

Tal como índio atento encosta ouvidos,

À terra, adivinhando aproximar-se

Fatal perigo, escuto versos lidos

Zumbirem na minha alma a amotinar-se.

 

Faz-me impressão, as mãos que nos empurram

Em frente, à voz do silvo do chicote,

Com imagens hediondas nos esmurram

Moinhos medonhos de Dom Quixote.

 

amo o dom de perder-me no ocaso,

entregue às mãos do céu sem que me espie,

Flutuando nas nuvens do Parnaso

Procuro a estrela que melhor me guie.

 

Janela do meu lar que o mundo vejo,

Fica-me o sonho ao menos de sonhá-lo

Cessar este poema com bocejo

É ser tirano, injusto; é esquartejá-lo.

 

Pois qualquer verso válido apresenta

Sintomas de demência insuperável,

Sinto que é esta loucura que sustenta

A erguer-se, o monumento, insustentável.

 

Pesa-me a fronte este existir menor,

Vivendo em filmes, livros e poemas,

Quero atirar-me da ravina, amor,

Tentando apanhar no ar melhores temas.

 

Num fúnebre cortejo, as nuvens passam,

Nas diligências vãs dos ventos fortes,

Atrasam-se, umas; outras, ultrapassam

Assim os homens tecem suas sortes.

 

Pobre de quem não pode olhar assim,

Desta janela líquida e aquática

Ao poema, incapaz sou escrever-lhe fim

Igual às equações da matemática.

 

Que esperes, dever seco, o sacrifício

Escrevo como o cérebro tem neurónios

Ignoro o malefício ou beneficio,

Também se os versos são da alma idóneos,

 

São construções de areia, altos castelos,

Virá o mar colérico apagar-me

Ou coloridos e gordos novelos

Que venhas Musa, um dia desenrolar-me.

Relatório sobre um Louco

Fevereiro 08, 2010

(ao meu amigo Hélder Carrudo…)

 

A ti, excelso amigo, irei contar-te,

Porquê equilibrar-me com ajuda

Que Apolo louro detém sublime arte

E que gentil, o mau humor nos muda.

 

Recente, esta loucura? Não, é mais

Antiga do que julgas. Tão complexo

Dizer-te em verso aflito por demais,

Dando sentido ao esparso e desconexo.

 

Desde criança que amo as coisas belas,

Simples, que perseguem nossa sombra

Acendem-me, no espírito mil velas,

Iluminando a noite que me assombra.

 

Se é crime contentar-me com tão pouco,

Mergulhem-me no pez negro do inferno,

Por cometê-lo fico afável, rouco,

Cantar é ter calor no frio Inverno.

 

Saber, para subir mais alto, é nada,

Polir meu sentimento, amigo, é tudo,

Diria que sofrera emboscada,

Da vida estranha, louvável Carrudo.

 

Perguntas se não sei ser de outro jeito

De tentar tanto, deu para perder-me

Serei eternamente insatisfeito

Até que o tempo venha desfazer-me

 

Pesa-me a lucidez, ter consciência

Inútil percepção da última hora

Agora, sem piedade nem clemência,

A vida poderá mandar-me embora.

 

Sofre-se ao saber essa verdade,

empresa inculta achar-lhe algum sentido,

À vida, se o sentido é a liberdade

Vaguear no mundo errante, assim, perdido.

 

Talvez por isto eu oiça imensa música,

Que alívio à dor nos dá. Eu gostaria

Cansaço ignorar, dor intensa e física

Do corpo, se o espírito voa em poesia.

 

Suporta-a, bom poeta, qual forte Atlas,

De erguidos braços, suportando o céu,

Ama o que te inspira, com que exaltas,

A vida breve que esse Deus nos deu.

 

Não ouves do abismo nos chamarem,

Vozes lúgubres? Soam mil lamentos,

Escuta, pela carne reclamarem

Inspiram tanto maus pressentimentos.

 

Ouve o global lamento que maior

Torna os tempos presentes conturbados,

A Terra geme e chora em Dó Menor,

Os cinco oceanos estão envenenados,

 

As aves alimentam-se de plástico,

Ursos polares caçam gelo e água,

O tigre ameaçador ruge nevrálgico

Há no olhar do elefante dor e mágoa.

 

Do outro lado do mundo o condor morre

Da Califórnia, ardência americana,

Desejo estulto humano que lhe ocorre

Lançar no precipício moeda insana.

 

Eu amo as coisas mesmo nunca vistas,

Como se amasse alguém que desconheço,

Paisagens nos jornais e nas revistas

Imagens que parece que as conheço.

 

Não vês que louvo quem o mundo louva,

Paixão de monges, mártires e santos

Que importa quem aprova ou quem reprova

O dom de criar mágicos espantos?

 

No fundo, é um bem que vem do mal amado

Ter o universo dentro da cabeça,

De superar-me, eu ando atarefado

Não há melhor remédio que conheça.

 

Sou a abelha que anda de flor em flor,

Dizem, quarenta mil por dia, incrível

Sorvendo o néctar, pólen, com fulgor

Sou só uma pouco mais repreensível.

 

Um dia hão-de cantar o que te canto,

Contar-te inutilmente o que te conto

Espantar-te como assim agora espanto

Sobre mim, hão-de acrescentar um ponto.

 

Ignora o que te digo ou por que faço,

Maneira de encurtar esta distância

Sinto que agora vim do imenso espaço

Contar-te o visto e quem tem relevância.

 

Procuro o que me exalta, o que me inspira

Grito na pedra, ânsia da flor, um beijo

Tesouro deslumbrante que partira,

Nas naus, rumando ao mar do meu desejo.

 

Ó ilha inacessível no mar plantada,

Que intensamente brilha no alto mar

Eu hei-de ver-te de verde esmaltada

Num sonho é Lúcifer a cintilar.

Nostalgia

Fevereiro 05, 2010

Na ânsia tornar-me poeta,

Sem ser o poeta que sou,

Ao céu, atiro-lhe a seta,

A mesma que o céu me atirou.

 

Trago um poema comigo,

Que nunca por medo escrevi,

Funesta é a sombra do abrigo

Das coisas que escolho e escolhi.

 

Relógio de cuco, não cantas

As horas que me alegraram,

São tantas, são tantas, são tantas

Imagens felizes. Passaram…

Não Sou Príncipe Encantado

Fevereiro 04, 2010

Às vezes, desço o abismo mais profundo,

Mergulho perigoso do sentir,

Hospedado no hotel do vasto mundo

Na almofada, encosto o rosto de existir.

 

Às vezes chego tarde ao manso ofício,

Do expresso sentimento num papel,

Oiço o murmúrio suave: "Teu suplício,

Canta-o, até tornar-se doce mel."

 

Às vezes sou a pedra da calçada,

Suporto quem caminha indiferente,

Observo, tal o tigre ou leopardo

Que o alvo escolhem, silenciosamente,

 

E a presa é o sonho que é a vida inteira,

Confusa multidão que vai passando,

Consigo ser também espreguiçadeira

Onde fêmeas ao sol se vão deitando,

 

Às vezes sou do sol bom protector,

Se os raios ferem, sou fios cremosos

Escorrendo pela pele, amaciador,

De impraticáveis sonhos langorosos

 

Às vezes, sou o príncipe encantado

Que surge quando ao sol as flores fecham,

Meigos olhos, às vezes, demorado

Nos seios doces fico (e não se queixam...)

 

Às vezes sou a sombra fresca e esparsa

Nas brônzeas serranias deslizando

Os dedos, que escreveram boa farsa

Põem sorrisos que vão me rasgando.

 

Às vezes sou os braços que as envolvem,

Num amplo e longo amplexo demorado,

Em húmidos beijos, amor devolvem,

Desperto!... e não sou príncipe encantado.

Rostos

Fevereiro 01, 2010

Olhando um tempo atrás já tão distante

Dá-me vertigens ver quanto passara

Gloriosa época, um mito, velho errante

Que sempre o Universo nos cercara,

  

Igual à fera luz no largo céu

Rainha, e o sol não surge no horizonte

Fico suspenso em tudo que foi meu

No início em que bebi da ingente fonte.

 

Império azul, acorda meus sentidos

Nos rostos mil que vejo à minha frente,

Rochedos firmes, nunca andam perdidos,

 

Fica-se, sonho incrível, vago, ausente

De espanto, boca aberta; são esculpidos

Pelo cinzel do tempo, indiferente.

Riqueza

Fevereiro 01, 2010

Riqueza ser-se livre de outros mundos,

À dor alheios; doura-me um sentir,

Para onde hei-de ir um dia, hei-de ir um dia

Mergulhar em mil lagos mais profundos,

 

Do dia colherei maduro fruto,

Da árvore que não me seja interdita,

Torna-se o dia seco, diminuto,

Sabendo que a alma chora, geme e grita.

 

Minha alma é um verde prado a florir.

Sossega, coração, na fresca sombra,

Este ter que ser sempre, esgota e exausta

 

Oprime-me o cansaço de existir,

Em frente, a eternidade é longa e assombra

Aquele que dobrar quer vida infausta

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