Indiferença
Novembro 27, 2009
Anónimo, sem rumo, andando pelas ruas,
Sem ter noção do tempo, nem sequer da Morte,
Saí! Fui ver-te, Vida, como amas e actuas
Nesta cidade antiga que me coube em sorte.
Plátanos e choupos, agitam-se no Outono,
Vê-se no chão tapetes de douradas folhas,
Olhando à volta sinto nos semblantes sono
Para encontrar a Vida, ó céu, finjo que me olhas.
Vestem casacos curtos, longos, uns compridos
Senhoras com vestidos de lã insinuante
Eu sou o céu que olha os seios comprimidos
De elegantes mulheres com ar triunfante.
Na altura em que Maria deu à luz Jesus,
Uns dizem que em Dezembro, outros num mês qualquer
Enfeitam-se árvores, prédios com jogos de luz
Por homens pendurados bem no amanhecer.
Jaz um guarda-chuva morto no passeio,
Foi sepultado ali. Por epitáfio tem
“Servi, honrado, alguém como bem lhe conveio,
Vivi sem ter vivido, sem ter sido alguém.”
Eu tenho, por rotina, nas manhãs iguais,
Ver um homem dormir, numa porta de entrada,
Dum prédio onde, elegantes, vivem racionais
Doutores, arquitectos, com vida abastada.
E as árvores estremecem no meu pensamento
Na minha mente caiem folhas de ouro fino
E pétalas de flores, travam meu lamento
Que um dia poderei sofrer igual destino.
De vê-lo, amaldiçoo Deus e o diabo,
Somos jogo de damas destes dois patronos
Dói-me a cabeça disto, a fronte, os pés, o rabo
Por sermos múmias vivas, mortos, bestas, monos.
Nisto, entro, soturno no covil sombrio,
Depois de ver miséria, ignoro vãos lamentos
Nos ares confortáveis não chove ou faz frio
Vivem ignorando alheios sofrimentos.