Porque se deitaram meus versos de bruços,
São vagos soluços no fundo do mar,
Deixaram segredos, nas redes enredos
No Cabo dos Medos: quem o quer dobrar?
Porque se afastaram, navios do porto
Seguro que fui, e agora não sou,
Foi quem me levara meu esclarecimento,
Nobre sentimento que ninguém expressou.
Que foi que deitaram na água bebida
Há tempos crescida na crista do monte,
Correndo-me mágoas p’las mãos, pelos braços,
Carícias devassas, nascidas na fonte.
É o jeito que corre meu purpúreo sangue,
Na minha alma exangue, confusa, quebrada,
São cacos de vidro, quebrados espelhos,
Ó versos vermelhos, da vida sonhada
O que me guiara às lendas antigas,
São minhas amigas, grávidas de Beleza,
Vêm da Natureza, a mote, dos ventos
Que gritam tormentos, loucura, incerteza
Olhei-me de esguelha, absurdo, no espelho,
Rotulei-me: velho! Logo dissipara
A Musa vibrara, de erótico aspecto,
Fiquei logo erecto, pois nua passara.
Mas alma de peixe que busca o recife
Alimento, estive a ouvir-me. Que louco!
Pois sabe-me a pouco, o muito que aprendo
O pouco que entendo, no fundo mar rouco.
Gostava ter várias vidas paralelas,
Dar-lhes sequelas, tempo tendo a mais
Notas musicais inspiram meus dias,
Belas poesias… deixá-las? Jamais!
São como brinquedos, amigos que escolhem,
as flores que colhem na alma-jardim,
plantadas, por mim, por serem meus versos
Proscritos, inversos, à palavra Fim.
Foi desde que ouvi acordes primeiros,
Foram pioneiros; dos lábios saíram,
Ouvidos ouviram, atentos, canções,
Que mil corações, sensíveis, sentiram.
Será minha eterna, maldita paixão
Encher coração com tacto, com gosto,
De ver-me composto num único só,
Rever-me na mó a moer-me o desgosto.