Há nesta imensidão escura aveludada
Uma lágrima solta, suave e purpurina
Rolando na marmórea estátua cinzelada
Pelo meu gosto, flor erótica divina.
A fresca exalação da boca, a primavera,
Do corpo, o movimento clássico do mar,
O fluxo e o refluxo, o sexo e a quimera,
Num leito perfumado, nimbado de luar.
A cama cor de musgo, o sonho cor do céu
O beijo de cereja, o envolver dos ramos,
teu corpo transparente, a timidez de véu
Nervosas mãos que tangem músicas que amamos.
É tudo o que imagino, sonho, anseio e quero
Roubar-te doce fruto do estreito pomar,
A lassidão da tarde, o sol, o desespero,
A pressa nos meus braços ter-te e abraçar.
Há neste firmamento miríades de estrelas
Várias constelações, se unires os meus versos
Figuras luminosas, luzes, sentinelas
Milhões de sentimentos vagos e dispersos.
Há nesta escuridão imensa um mar de luz,
Quando na luz me sinto cheio de escuridão
Reúne este meu mundo: vê o que produz
Vê nítido o fundo, o fundo do meu coração.
Lembram-me os jardins da babilónia antiga,
De jardins perfumados de labor lascivo,
é meu segredo, abrigo, onde canto a cantiga,
De quem se sente só, pasmado e pensativo.
Tem o odor da crença, o odor morno do sexo,
As contrações finais do milagroso músculo,
O cheiro a liberdade, a suor do meu amplexo
Sorrindo em direcção à chama do crepúsculo.
São versos arrancados quando a hora aperta
Com aspereza as mãos cheias de imenso tédio,
Passeio à beira mar numa praia deserta
Se do terrível ócio sofro seu assédio.