Renascer
Março 30, 2009
Basta parar, erguer os olhos, ver à volta,
Quem somos, por um pouco, ver o que fazemos,
Ouvir um gotejar benigno que anda à solta,
Caindo gota a gota na taça em que bebemos.
Basta me aperceber que aquela árvore nua,
Era banal mulher sem ter lábios pintados,
Já não filtrava o sol, nem sombra dava à rua
Que agora veste o verde vivo e tons dourados.
Basta me aperceber que num rosto há miséria,
E nas palmas das mãos há linhas tão confusas,
Quem sabe se no corpo há uma alma funérea
Se usa flores de Vénus, cobras de Medusas.
Basta me olhar ao espelho pra não querer ver-me,
Que lento o tempo exacto marcha no meu rosto
E remexer na terra e ver-me um bicho inerme
Ou não seguir o rasto que leva ao desgosto.
Basta seguir na noite um ponto luminoso,
Andar sobre o tapete que a Lua me estende
Bastou-me ser sinistro, apático, ocioso
Para saber que existe alguém que nos entende.