Se híbrido e vazio me encontro fraco,
O que haverá que possa, amor encher-me
Quebrado como um jarro, fico em caco
Com medo de perder-te e de perder-me,
Se não me encontro fraco, é porque peço
As palavras que nem anjos me ditaram
Preciso de virar-me do avesso:
Chamo os versos que costas me voltaram.
Foge-me o chão que piso na cidade
Sobe-me de súbito a tontura
De me lembrar que encontro liberdade
No mármore da minha sepultura.
Agora, quase arranco do meu peito,
Os versos, como se fossem raízes
Eu amo-os por não terem preconceito
De adorarem também os que me dizes.
Eu roubaria a aurora de manhã
Compondo com a cor que pões nas faces
Se fico na entrada do amanhã,
À espera que também, amor, não passes.
Não entres no Amanhã. Esse jardim
Têm flores venenosas no presente
Usa o perfume doce do jasmim,
Engana a mais astuciosa mente.
Falhei vezes sem conta nesta vida
Débil e imprudente agia em estar,
Noutro lado, onde andava a alma perdida
Mas onde havia um altar pra a alma orar.
Tentei louco deixar ser tanto assim,
Mas quando vamos contra a natureza
É como se violasse esse jardim
Com explosões inúteis de incerteza.
Tornei-me da Beleza fiel amante
Tornaram-se meus olhos dois falcões
Bebi da noite o néctar, triunfante
Que nos embala, abrindo corações.
Não sei olhar ninguém sem que não olhe,
Em cada rosto há mágicos mistérios
Espanto, no fascínio que não escolhe
Nos rostos, uns alegres, outros sérios.
Levas-me a mal? Não creio! Eu acredito
que a vida sofre alegre na vaidade
Desfaço-me em pedaços neste grito
Contido, por cheirar a Liberdade.
No fim da tarde é quando silencio
As sensações que tento transformar
Em verso, sem que fique neste frio
Morrer desperto, sem grito soltar
e sonho que sou águia que pairando,
sobre o rosto que busco a perfeição,
E sonho ser poeta declamando
Perfeitos versos feitos na solidão.
Surge-me o mundo como um mar profundo
Como se lá morasse, ouvindo atento
O silêncio marítimo, rotundo
Vivendo nesse sonho, em pensamento.
Tenho este ar que respiro e me consola
Nasci como se não escolhesse um nome
Sou como aquela bola que rebola
sou o lúrido fogo que consome.
Sobe espesso o fumo do cigarro
Da boca, leva o vento, sai a vida
Que tem tanto de beijo como escarro
Sai como um sopro igual na despedida.
Recuso a sonolência, o conformismo
Que existe em cada lar, onde se rasga
Escondidos episódios de erotismo,
Onde a mentira na boca se engasga.
No embalar da noite é que sossego,
Podendo ter o bálsamo da música
Ah, doce esquecimento a que me entrego
Solto das leis da química e da física.
Pensando que nem tudo é matemática
(Como é que um sentimento se equaciona?)
Eu sou igual a zero quando, apática
A minha alma se dobra e se abandona.