Inspiração
Agosto 29, 2008
Amo a noite, o escuro, o corpo, a cama
A mágoa a enrolar-se na escuridão,
Amo aquele beijo húmido, a chama
Um novo incêndio no meu coração.
Amo a nudez dos astros e da lua
A trégua dada pela a amarga vida
Amo o esplendor quando te estendes nua,
Como um lençol de seda, adormecida.
Amo, no quarto, a sombra azul escura
Se meus lábios demoram-se nos teus,
Amo o salso suor sem ser secura
Na boca, os olhos teus, fixos nos meus.
Amo os libertos cheiros dos dois sexos
A búzios a limos e algas marinhas
Amo as nocturnas frases e os amplexos
E as tuas mãos coladas quase às minhas.
Amo os desenhos feitos por meus dedos
Na tua lisa pele cor de leite
Amo esta hesitação como se os medos
Fossem também de noite belo enfeite
Amo seguir com olhos de falcão,
Contornos do teu corpo são, roliço
Amo quando me aceitas com paixão,
E quando não, amo como um noviço
E quando para trás a fronte inclinas
Para deixar-te escrito o meu poema
A ver-te como nos lençóis declinas
Para mudar de enrendo ao nosso tema
O enrubescer das faces se demonstras
Maior e voluptuoso entusiasmo
E o percorrer das línguas cada encosta
Que servimos de entrada antes do orgasmo.
Amo entreter-me como uma criança,
Feliz dentro da loja de brinquedos
Amo dizer-te versos de esperança
E dissipar-te os teus pungentes medos.
Amo beijar-te as pétalas rosadas,
Amo acender mil velas no desejo
Amo ter nossas línguas enroladas
Como as cobras com seu álgido beijo
Amo ver-te o cabelo em desalinho
Como vaidosos e verdes salgueiros
Amo aninhar-me no teu morno ninho
Os sons dos lábios húmidos, inteiros
Amo o final que soa a sinfonia
Do rei do romantismo, alemão louco
Talvez na nona, aquela Ode à Alegria
Na orquestra em que também contigo toco
Amo matar-te a sede e saciar-te,
A fome, que depois, tens de conversa
Trazer-te a água fresca e contemplar-te
Depois ver-te no sono já submersa.
Amo este matutino cheiro de ontem
Nas madeiras e cortinas entranhado
O ouro reluzente que o sol tem
Que de manhã, o sol é abençoado.