Aquele olhar melindra alegra e estiola,
Num embalar dos barcos no mar calmo
dedilhar virtuoso de viola.
Mais sábios que um divino e sábio salmo,
Langor lhe enruga a tez, volve-me a cor
Aos seus, onde me estiro, onde me acalmo
Perfume decorado desse amor,
Nervoso e doentio e rancoroso,
Olhar formoso e até consolador
Das pálpebras pesadas, de horroroso
Torpor da solidão noite doentia,
Que acaba por estender-me rancoroso,
Nos verdejantes prados da poesia,
Ciente que no chão me deito agora,
Na rigidez do mármore onde havia,
Silêncio penitente, íntima hora,
Que volvem-me as entranhas na tristeza,
De ser-me hoje horizonte, onde lá mora,
Nas praias brancas, deusa, a Natureza
dourado espelho, neste dia cálido,
reflexo da minha própria fraqueza,
Lugar, se me apresento triste e esquálido,
devolve-me contrário ao pensamento,
irado vento, vindo Éolo pálido,
Soprando ao meu contrário entendimento,
Do que possa ser vida, ou Morte possa
E cai no icário mar do esquecimento.
Nem leve brisa no meu rosto roça,
(Nem ventos roçam neste horrível rosto),
E só a solidão a dor adoça,
Meu hálito doente dá-me o gosto
De fins de festa nos dias festivos,
Cenário de saudade e de desgosto,
Mantendo no seu jugo meus cativos,
Sentidos tantos quanto eu possa ter,
Mais que poeirentos e empilhados livros
Onde possa passar menos a ler,
A minha alma sem escrita heróica nunca,
Lida por alguém que possa ver,
Amplo cansaço que a língua me trunca,
Mordendo qual picada a negra mamba,
Boca venenosa ou garra adunca,
Da águia que nos ares bem descamba
(como quem asas tem não se deixando
Dançando uma comédia ao som do samba,
E nesta vida torta eu vou sambando,
Durante estios secos não sorvendo,
Os olhos que me olham de vez em quando,
Pois tu, anjo da morte vais retendo,
As horas já vividas e contadas,
De nós troçando, rindo, escarnecendo,
Nas ilhas prometidas e inventadas.
Sai Polifemo da escura caverna,
Contando quantas almas já ceifadas,
Na mente humana frágil consolado,
por exotismo louco da lembrança,
que sinto como absinto devorado,
áspera língua, boca imunda, esperança
Vazio banco num jardim de prata,
Que a tez me tinge a cor da confiança,
E mortal palidez lhe desbarata,
As doces iguarias da solidão,
Que a alma se perde em púrpura barata,
porém se esquece da nobre estação,
estreita quanto a vida me concede,
gigante espaço imensa informação,
Lugar onde esmagando a fome e sede,
Que na máquina gira avariada,
Loucura, ensurdecedor grito pede,
Podendo unir-se o corpo à alma alada,
Sem penas e sem plumas e sem brilho
Águia da montanha depenada,
Sol sem céu ou seio sem espartilho
Veste sem corpo, ou dedo sem guitarra
materno pranto longe do seu filho
De imaginar-te o corpo à alma se agarra,
mas Musa imaginei-te noutro sonho,
longínquo de alcançar-te além da barra
Distante, qual navio antes risonho,
branca espuma, Apolo reflectindo,
assim meu olhar torna-se tristonho,
vence-me uma aranha mais subindo,
mesmo que Evareste agora escale,
e o frio e o vento e a neve consumindo,
O corpo. Que outro manso corpo embale
colando-me na fronte um beijo quente,
Que rei draconiano mais não fale!
Meu corpo é manipulador da mente