Respiro enquanto durmo no teu colo,
Nimbado corpo por Délia de prata,
Tão bom momento que sempre não dura;
Haverá certa altura,
Não dar-te desconsolo,
Porque ansiedade, amor, nos fere e mata.
Não quero mais pensar ou ver-te triste
Ouvir-te a Morte em tua linda boca,
A vida breve passa num instante,
Rasga-me esse turbante,
Que Amor, Morte despiste:
Quero-te bem amada, nunca louca.
Meu lírio branco, orquídea, tenra rosa,
Flor com que o céu magnânimo regou,
Num dia sem deter o toque de ouro,
Meu rubi, meu tesouro,
Canção que Glauco glosa,
Que Amor cilada agreste lhe arranjou.
Tingem-se as maçãs do rosto lindo
Divina qual rainha alva de Delos
Magnânima me dando a eloquência,
E o vento, que vem vindo,
Restaura a minha essência
Com que a brisa penteia-te os cabelos
Nos versos teus saídos de meu peito,
Forjados na fornalha proibida,
Que me proibo em pranto ver-te assim,
Vida não chega ao fim,
Modera esse preceito,
Porque encontrar se deve uma saída.
Cesse esse discurso não pensado,
Vale esp’rança que na terra se enterra,
Ouro do rio se extrai se paciente,
Mas este ouro dif’rente,
Não se tem por achado,
E muda o curso inteiro à agreste guerra.
Recupera o fôlego primeiro,
Respira até que o fundo ao cimo venha,
Colando os lábios teus aos meus, amor,
Num ápice, fulgor
De impulso verdadeiro,
Vence a soledade que em ti se entranha.