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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

Sofismas

Janeiro 31, 2008

Sim, bem sei. Sobre o que sinto?
Sobre o que sinto?... Realmente, ignoro
Sincero como um pranto que foi extinto,
Loucura, dor que pinto, dor que choro.
Na branca e parda tela a dor desminto.
Cresce, cândida flor, num ermo escuro,
Ao sol, tem alucinações de absinto,
Meu coração deserto, onde perduro.
No exterior explícito, não basta:
Arde-me o romantismo mas esfria
Mimosa margarida, alegre e casta,
Não basta na pureza, na Poesia.
Sou imprudente, sou quem não se afasta
Do rasto da pantera, da leoa,
Empunho a espada que meu ser desbasta,
Chorando a borboleta que a mim voa.
Debaixo deste opressor firmamento,
Lamento-me do Tempo que não tenho,
Para cantar só com o pensamento,
Intrépido no mundo, onde me acanho.
Vadio, meu pensar, meu sentimento,
Vagueia pelas ruas, indiferente,
E soa-me a verdade num portento,
Verso de quem realmente ama e sente.

As paisagens

Janeiro 30, 2008

Idílicas paisagens, eu não vejo,
Sentado no meu trono de ar e terra,
O Sol no outeiro, a linda e verde serra,
Entrando na floresta do desejo.
 
Chegar à cordilheira alta, eu almejo,
Deixando a marca, o nome, o apelido,
Com embalos da minha alma combalido,
Que nunca em vida vi, e nem festejo.
 
Mas minha adoração, casta mulher,
De lindo, róseo rosto, adormecida,
Nos braços dos meus versos, nos emblemas;
 
Em ti, amar passei, passei a ver,
Os deuses que se intrometem na vida,
Fluindo por meu ser sagrados temas.

O Primeiro Amor

Janeiro 29, 2008

«Não sei o que dizer ao mundo inteiro,
Agora que me encontro aqui deitada,
Que fui, pelo amor, abandonada,
Aquele amor que arde. Foi meu primeiro.
Belo e casto, surge como a pomba,
Branca, anunciando voz da esperança,
De súbito, cai morta, no chão tomba,
Não sendo mais no vento que ar, lembrança».
 
«Meus lábios estão sedentos dos dele,
Meu corpo escalda, anseia a vibração
Do abraço, do calor, do beijo, aquele,
Que surge como seta ou aguilhão.
E vagamente vou olhando e... nada,
Antes ouvia o canto dos seus passos,
Aparição de anjo, duende, ou fada,
Fundindo, com os meus, seus fortes braços.»
 
«Vivendo agora de olhares mortos, vagos
Meus olhos são dois lagos secos sem
Cisnes, deslizando como afagos,
Das amorosas mãos que o Diabo tem.
A vida presta? Prestará um dia,
Talvez no amanhã, erguer-me-ei
Mas hoje, arrasto-me pra luz sombria,
Dos sonhos que no passado sonhei.»
 
«Falam-me das árvores, das sebes,
Das flores, mares, montes e montanhas,
Mas como, amor, não sentes nem percebes,
Que tudo isto o teu amor tem. Que venhas
Ser musgo verde vivo onde me quero
Ver deitada e só, ter-te a meu lado,
Fingindo ser Diana, na força e esmero,
Nas minhas manhas ter-te aprisionado.»
 
«Ah sombra do que fui, e agora sou,
Sol adorado, mirro como a flor
Teu rosto vejo em trevas que levou,
A minha alma atrelada em tanta dor.
Responde, tu que vagamente me olhas
Por nuvens, pela célica morada
Porque entre variadíssimas escolhas
Fui, entre tantas, a mais acertada?»
 
«Descobre-me, ó infortúnio, ó agonia,
Pesam-me as pálpebras roxas, cansadas
Dos sonos mal dormidos nestes dias,
Escuros como noites mal fadadas.
Crava-me no peito afiadas garras,
Na tua lista, escreve o nome em sangue,
À barca do Inferno, solta as amarras,
Vem buscar a minha alma fraca, exangue.»

Mitos e Lendas

Janeiro 28, 2008

Não ouves lá de fora os cães uivarem,
Honrando, à Lua cheia e macilenta?
Escorre um fio de sangue, e, ao cantarem
Ferem quem na vida corre e tenta.
 
Não ouves lá de fora a ressonância,
Um roncar persistente como o mar,
É o homem, cuja forte extravagância,
Pretende os céus imensos conquistar.
 
Nem sombra, espectro, aparição sombria,
Funda no peito humano a maldição,
Nem mito, nem bíblica profecia,
 
Miséria de ser homem, de ser gente,
Viver como se de premonição
Tratasse... É esse ser omnipresente!

Ambição

Janeiro 28, 2008

Possa encontrar meus dias de sossego,
Deitado sobre as pedras, sobre a terra,
Possa encontrar um fim para esta guerra,
Que em minha mente zumbe um desassossego.
 
Possa encontrar os versos que me esqueço,
Um esgrimir perfeito, altivo e louco,
Sabem-me estes meus versos tanto a pouco,
Mas, lá no fundo, encontro o que mereço.
 
Nada! À volta é sombra só, tormento,
Respiro o insalubre ar inquieto,
Parece que meu peito foi aberto,
Lançado ao fundo mar do esquecimento.
 
Todos os nomes se me escapam como,
Voos das aves esquivas, assustadas
Almas como a minha não são dadas,
São vendidos como livros de um tomo.
 
É como procurar bem lá no fundo,
Trazendo à tona limos sem tesouros,
Verdades, bebo de outros bebedouros,
Que moram na mansão lá do profundo.
 
Quero as palavras novas que anunciem,
Novas auroras sóbrias, de outras cores,
Novos e limpos versos, outras dores,
Que só os meus olhos leiam e apreciem.
 
As serras, as planícies, as montanhas,
São infantis desenhos pela mente,
Feitos, Sou quem sonha, dorme e sente
Nas paisagens mais lúgubres e estranhas.
 
Foi novamente escrito este poema,
Já tive a mesma ideia, o mesmo sonho,
Já fui em vida muito mais risonho,
Se embalado encontrava um alto tema.
 
Meu argumento encontro se me esqueço,
Do mundo, transformando-o em ar, em pó
É como numa escala não ter dó,
E é nesta sinfonia que enlouqueço.
 
À minha volta o mundo inteiro ri,
Prospera, sem que encontre o desespero,
E neste instante, aquilo que mais quero,
É saber lá no fundo se vivi.
 
Marcham, orgulhosos, ânsias, medos
Desejos vis, a fome, a sede, o nada,
A sombra, eu quero-a iluminada
Como teus maternos, delicados dedos.
 
Porque me amparas, guias como a estrela,
Polar que direcção levou a gente,
Marítima, que anseia a terra e sente,
Haver, andando em frente, a ilha mais bela.
 
E as sensações constantes do fracasso,
Dissipam, como fumo e nevoeiro,
Repelidos por sol jovem, fagueiro
Azulando o infinito, o imenso espaço.

ODES

Janeiro 24, 2008

I
 
Álgidas imagens duram quanto,
Durar não podem,
Qual rosto rubicundo alegre e lindo,
Tempo não tira.
 
Cristal a luz fogosa incide em águas,
d' Etéreo brilho,
Reflexos que não vejo neles dentro,
De olhos fechados,
 
E a minha boca abre-se em amplo espanto
Perfume deixa,
Sem transformar-se em vapor na memória,
Se terno fico.
 
II
 
Mágoas, medos, surtos de terror,
De Alecto estímulo por sábia deusa,
Roída por ciúme,
Por dentes viperinos
Não estagnam pratos brônzeos da balança,
Da urânia Têmis , tarde na presença,
          Árias antigas dão,
          Alívio, que não tenho.
 
Frutos doces de arte que da flor,
Colhidos da árvore do pensamento
          São, porque me embalam,
          Nãos mãos que desconheço,
Qual hora embarcarei na eterna barca,
Sulcando águas da cor da noite alada?
          Que importa o que não deixo,
          Se seara, árvore ou nada?
 
 
III
 
Ó mar que no fundo,
Pedras guardas. Lançam,
Desejos vãos, viris,
De humano, estreito aperto:
 
Tu que moves terras,
Devolves e cobiças,
A térrea cor de Gaia,
Na verde carnação.
 
Respira docemente,
Nos encantos de afrodite ,
Inspira o que te canta,
O sol na madrugada.
 
Rugidos teus despertam,
Dos ventos, os clamores
Lançados na presença,
Das frágeis flores: Homens!
 
Negoceia com teu,
Irmão ferino e mudo,
Às pálpebras pesadas,
Do torpor, do cansaço.
 
Uma pedra lançada,
É prece nunca ouvida,
E em olímpicos céus,
Ruge o escárnio à noite fria.
 
 
IV
 
Sentir-me, é árduo empresa quando deixo,
À alma do Mundo entregue ao abandono,
Volúvel corpo, vago ligamento
Do que pretendo e nunca alcanço, é porque
Debaixo dele, encontro o que não quero.
 
No árido pensamento, encontro o sol,
Rubro escudo, absorto esmorecendo
Nas cerúleas moradas de Neptuno.
Mas onde mora água, vida me existe,
Povoada fonte de limos antigos.
 
Se passo, oscilam (sonho isto), os suaves
Plátanos, de folhas incontáveis.
Tempo haverá que possa ter um tempo,
Que parar possa, só para escutá-lo,
Dialogando com quem nunca posso.

A Nórdica

Janeiro 22, 2008

Que estranha e solitária criatura,
De cabelos nevados de amargura,
As enrugadas faces trazem dano,
Derramada mancha em alvo pano.
 
Forte aparenta ser qual dura rocha,
Extingue o lume a qualquer outra tocha,
Ninguém nela a razão ouse encontrá-la,
Ninguém pretende sequer osculá-la.
 
Pálida, orgulhosa, monocórdica,
Com ar glacial de inglesa, fria, nórdica,
Se torce os lábios finos, quer dizer
Que enfrentá-la é o mesmo que a ofender.
 
Maligno cogumelo envenenado,
Felino olhar benigno, enclausurado.
Desgrenhada, velha árvore centenária,
Pequeno mosquito que traz malária.
 
Lago fétido abandonado e triste,
Onde apertado esquecimento existe,
Vestido por velhas folhas caducas,
Matando a sede a monstruosas bocas.
 
Desperta, ó coração empedernido,
(Quando? Em que altura se terá perdido?)
Perdeu a mãe. Coitada! Lá no fundo,
Comovo-me se entro no seu profundo.
 
A sua estrepitosa gargalhada,
Lembra-me a guerra, a forte metralhada.
E voz de fino timbre requintado,
Soa-me a prensa, soa-me a forçado.
 
Nos olhos, das góticas torres tem
Presença hostil, rainha em seu Hárem,
Tem um andar cómico da avestruz,
Em trevas, repelindo a clara luz.
 
Moral, naqueles olhos encharcados
De solidão, por ódio embaciados?
De nada à espera estou que dali venha
Da solitária e criatura estranha

Ode à flor

Janeiro 22, 2008

Ó rosa fresca e pura,
Que nasces nos mais estranhos recantos,
Dá-me um ardor, ternura,
Amanso o verso que entristece os cantos,
Dos anjos que não tangem,
Liras, que me arranjem,
Balsâmicas notas para meus prantos.
 
Dália oferecida:
Como abres, radiante, esguios braços,
A flor que doma e lida,
As rubras hostes, medos, embaraços,
Que ânsias predominam,
E as cores me fascinam,
Volvendo em leves, finos, rudes traços.
 
Tu, orquídea louca,
Seduzes os românticos poetas,
Abres a fatal boca,
Por ti, Eros dispara afiadas setas
De quem te beija e prende,
Perdido e não te entende,
Guiados para abismos, negras metas.
 
Túlipa holandesa,
Que enches os campos verdes de mil cores,
De mansa natureza,
Suportando os caprichos e rigores
De Outonos invernais,
De invernos outonais,
Neste papel imprime mil favores.
 
E tu, camélia rara,
Das coras e das formas tão diversas,
Nunca no odor avara,
Com quanto ardor que tu tanto dispersas,
Nos olhos radiantes,
Tristes, penetrantes,
Ferindo incautamente, almas adversas.
 
Virginal margarida,
Que a frontes curvas quando beija a abelha,
A vénia embevecida,
Tão bela, reacendendo uma centelha,
Ondulando com vento,
Levando meu tormento.
Beija a caduca estrofe, seca e velha.
 
Floresce no poema,
A rara flor nascida em quente estio,
De excelso e livre tema,
Sentindo a mansidão dum amplo rio,
Plácido e banhando,
As terras perfurando,
Beijando finalmente o mar bravio.

Ambiguidades

Janeiro 22, 2008

Toca as águas lúridas, escaldantes,
No centro do meu mundo e do universo
Reluz no rosto todo o ouro: o verso,
Das ruas citadinas, espampanantes.
 
Chegam como peitos ofegantes,
À pena, ao punho, chega a ser inverso
No sentimento escasso e controverso,
Homem entre deuses, titãs, gigantes.
 
Amontoando montes, rocha a rocha,
De tanto cântico, a boca já roxa
No tempo que me resta eu vou erguendo;
 
A minha própria cova, sepultura,
Meu corpo langoroso vive e dura
No inútil trono onde vou esmorecendo.

Estertor

Janeiro 21, 2008

Nas cavernosas partes do meu ser,
Há bruma entrecortante, um sentimento
No áspero leito dorme o pensamento,
Ficando a rir, a ver
 
Descobre o que há por trás destas cortinas,
Pesados de veludo tão vermelho,
Coçadas, num teatro magro e velho,
Com cheiro das boninas.
 
Deflagra no meu peito um fogo ardente,
Que solte agudos gritos de aflição,
Assim, direi que me arde o coração
Beijando-me insciente.
 
Consagração divina em vida é obra,
Quem sofre de mil febres e delira,
As vibrações da minha antiga lira,
É uma sibilante cobra.
 
Que mares posso navegar no lenho,
Tão frágil, quanto a flor na mão gigante,
A terra, nos decretos do tonante,
Tirano, amargo, estranho.

O Homem e o Corvo

Janeiro 16, 2008

Um citadino andando sempre em frente,
Pelas verdes colinas caminhava,
Numa constância louca contra o Tempo,
Pensando que chagas, dores curava.
A grossa chuva, o vento, o frio cortante,
A fúria verdejante lhe mostrava,
Guardando a Natureza os seus mistérios,
Que histórias demoníacas lembrava.
 
Nos trilhos lamacentos, pedregosos,
Nada de apaixonante o inspirava,
Sem mácula, distante e sonolento,
O pobre homem no bosque se embrenhava,
Ouvindo as gotas grossas embaterem,
Nas folhas, pranto imenso desabava,
Nas árvores copadas de esperança,
Assim o céu a Terra fustigava.
 
"Bem sei onde quero ir, mas não encontro,
Caminho certo", assim ele pensava,
Nunca se arrepiando do caminho,
Já a terra tortuosa serpenteava,
Levando-o para onde nunca ele foi,
Os choros incessantes lhe tapava,
A vista, procurando uma vivalma,
Que raramente por ali passava.
 
Mas de repente, um roçagar de plumas,
Vencia os ares. À escuta, ele parou.
Voava um negro corvo que com ele,
Misteriosamente lhe falou.
Incrédulo, o pobre homem confundiu,
Aquele lugar ermo, e escutou,
Donde vinha aquela voz que ele ouvia,
E trémulo, num canto se ocultou.
 
"Quem és, que do grasnar, oiço uma voz?",
Pergunta ao corvo, louco lhe lançava.
"Sou quem herdou dos vivos uma alma,
Que enquanto vivo os outros ajudava.”
Hesitante, trémulo e confuso,
O homem, no que o corvo disse, estava
A ver porque o seguia. E em vez disso,
Lembrou-se que ao lugar nunca chegava.
 
“Ajudo-te, se a mim tu me ajudares”
Enigmático o corvo assim dizia,
E o homem, sem escolha, sem caminho,
Assim, estático, o animal ouvia:
“Venho do mundo dos sonhos onde,
Falava antiga e maga profecia,
Que tudo o que sonhares acontece,
Sem música, nem cor, sem poesia.”
 
Durante muito tempo prolongou-se,
Conversa entre os dois. Já Apolo virava
A direcção dos seus corcéis fogosos,
No mar piscoso, rubro, mergulhava.
Nem versos imortais cantam as coisas,
Sobrenaturais, que o corvo grasnava.
Surgiu das árvores nuas, desgrenhadas,
A Lua em seu esplendor os espantava.
 
“Vou ajudar-te a encontrar caminho,
Que a ti próprio traçaste.”, lhe lançava
Oferta ao viajante duvidoso,
Que quase o seu caminho arrepiava.
“Porque me ajudas, ser do outro lado?”
Assim, ao corvo, o homem perguntava.”
“Porque vais para o lado donde venho,
E agora, eu não vou só!”... assim grasnava.  

Mentiras

Janeiro 15, 2008

Quem pode compreender do mundo o enigma,
Movendo-se consoante o que se ordena,
Aos poucos decifrando o forte estigma,
Sem haver rei num reino que governa.
 
Instala-se uma doença nova, obscura,
Um ódio, uma chaga, maldição,
Queimando uma floresta de ternura,
Queimando o mundo inteiro em devoção.
 
Do medo vive, e juntamente nele,
Suor gelado escorre-lhe na fronte,
Encosta o rosto, na almofada, a pele
Queimada como a pele de Faetonte.
 
Milhões de bocas abrem, vertem lágrimas
Brotam novas fontes, secam rios,
Línguas bífidas de invejosos Grimas,
Tão gélidos, já mortos, roxos, frios.
 
Viver, a ver chegar a madrugada,
Que num segundo move a escuridão,
Posso, sacra Musa, aconchegada,
Entrelaçar na tua a minha mão.
 
Arder o Mundo pode, e meu refúgio
Posso em vida escolher, aconchegá-lo
De medo desprovido, ou subterfúgio,
Que posso mais fazer que embelezá-lo?
 
Tão frágil meu desejo que se escapa,
Tão facilmente entre os meu dedos finos,
Encobre-se a verdade numa capa,
O rosto esconde, com gesto divinos.
 
Talvez no sol se esconda, ou no horizonte,
Como alegre criança recolhida
Na gruta inatingível, lá no monte,
Impenetrável, sem volta, sem ida.
 
Encobre a densa névoa, exalta Diana,
Divino olhar, num círculo gigante
Sonho ser um qualquer deus que me engana,
Da minha alma verdugo agonizante.
 
Frágil, pesaroso, sem memória,
Anónimo entre a gente, assegurando
Tropeço nos versos sem cor nem glória,
Da gente, vagamente, os ocultando.
 
Acende a vela, amor. Olhemos juntos,
Lúridas sombras, que brincam no tecto
Vamos pensar que deuses são defuntos,
Deixando sempre o céu imenso aberto.
 

Descobrimentos

Janeiro 15, 2008

Escorre-me o suor na fronte, um gelo
Percorre-me nas veias como um rio,
Vermelho, de água em sangue, de água em nada;
Um Nilo, um Ganjes, Ártico em degelo,
Deméter fúria espalha em chuva e frio,
Materna dor pela filha raptada.
 
Nas pálpebras, um peso cor do chumbo,
Meus olhos entreabrem-se, não deixam,
Lançar falcões que tragam brancas pombas;
Numa lápide escrevo: “Aqui, sucumbo
Pertenço aos demais seres que não fecham,
Caixas de Pandora, feitas de sombras.
 
Se minhas mãos não podem mais colher,
Milagres verdadeiros, valiosos,
O que importa o que tanto ou nada aspiro?
Em frente caminhando, se escolher,
Um ramo entre outros feitos gloriosos,
Pode o coração ser meu retiro.
 
Dói-me a cabeça como o mundo inteiro,
No seu declínio histórico, profuso
Roçando o pedregoso chão que piso;
Consolo-me não sendo ardor primeiro,
Esfomeado lobo que confuso,
Que surge como o sol no outeiro, liso.
 
Sou águia rodeando uma montanha,
Ferindo os altos céus sem meio e fim,
Buscando em desepero o verso eterno,
Assim torna-se vã a vida, e estranha,
Quem sente uma loucura que há em mim,
Sem reino, sem império, sem governo.
 
Descubro diariamente Hélicon novo,
Nas palavras, fluindo no meu peito,
Numa torrente musculada, intensa,
Negra, como a plumagem do corvo,
Farta, como alma sem guia e jeito,
Árvore desgrenhada em treva imensa.
 
Nas luzes citadinas dançam versos,
Por entre a gente, fumos, frescos ares
Inatingíveis, que sempre sonhei;
Trazem nos semblantes seus sucessos,
Nos rostos adormecem despertares,
Que nunca descobri nem me lembrei.

A canção Crepuscular

Janeiro 14, 2008

Nos teus olhos brilhantes há corais,
Onde posso ferir-me ou inspirar-me,
No teu corpo, banquetes, festivais,
Onde posso ferir-me e deliciar-me.
As tuas mãos mimosas, delicadas,
Contêm segredos doces e nefastos,
Dedos, árvores, nuas desgrenhadas,
Onde possa pousar,
E numa canção doce te embalar,
Ser rouxinol prudente que mais estimas,
A ver-te mansa, calma e se te animas,
Sentido os embaraços,
Os infinitos e brancos espaços,
Que agrada aos olhos lânguidos e vagos,
Da imperatriz do amor da deusa ardente,
Do beijo ardente, a palidez do abraço,
Da enrugada tez se tu me negas,
Os ímpetos velozes e piegas,
De ser o arqueólogo insistente,
Que te descobre e te ama persistente.
          No rosto uma candura,
No movimento uma doce brandura,
No andar, a realeza, a calma forte,
Estrela polar que me leva ao Norte,
          A branca margarida,
          Que numa primavera,
Por Febo amada levemente querida,
Florescendo só como quem espera,
Chegada dum poeta,
No verso aguda seta,
Retesando o fatal arco vibrante,
Das voz divina célebre, tonante.
Lira de prata, vibra as cordas rudes,
Retinindo no ar, premeia a Musa,
Transforma em flor o que faz a Medusa,
E nunca o trato manso e calmo mudes.
Fresca e tenra rosa azul celeste,
Crescendo nos jardins de Adónis, vejo
Bruxuleante sombra do desejo,
Flâmula do Amor que reacendeste,
          Ardor de Apolo em brasa,
          Por quem arrastou asa
Por Dafne, enlouquecido ele amou tanto
E num loureiro a amada transformou,
Gemendo nas manhãs em longo pranto
Logo que inicia a vida vã,
          Virando a fronte a ver se ela lá estava,
Passando os monstros vários no alto carro,
Fogoso, quando ao mundo luz concede,
À vasta Terra azul que nada pede,
Além da graça eterna,
Da deusa que governa,
Os longos campos verdes, e searas
Que as ninfas de tristezas são avaras,
Colhendo pelos bosques raras flores,
Mimosas mãos, as dádivas de amores,
De trajes reduzidos ao que interessa,
Ocultar, pra que alguém não tome à pressa,
Nos loucos, ascendentes, movimentos
Que zénite ao corpo prazer concede,
Se deleitosa Musa o beijo cede.
          Deixa perder-me assim,
Pelas florestas, nos belos poemas
Nos mármores polidos bem cravados,
Alados versos imortais, proscritos
De corações, por Beleza, exaltados
Por melodias, cânticos, por gritos,
Estremecendo pedregosos peitos,
Dos homens, eternamente imperfeitos.
          Cessa meu pudor,
Cessa minha alegria,
Num cântico romântico, poesia
Pura, sem falso verso incolor,
E, reduzido a cinzas, possa ver-te
Quando respirar outro ar que não este,
No infindável campo de merecer-te,
Pelo Bem Mal oposto que me deste.

O Inverno

Janeiro 11, 2008

Ruge rouca a música de Inverno,
Embalado por violinos de Éolo irado,
Que oblíqua chuva traz, a voz do Averno;
 
O filho de Latona intimidado,
Oculto pelas nuvens pardacentas,
Reduz as sombras, torna o chão espelhado;
 
Ó tu, que os verdes campos alimentas,
Por Dafne escorraçado, deus do louro
Tamanhas dores hoje tu sustentas;
 
Luzídio, transformando pedra em ouro,
Aos olhos nossos lanças ilusões,
Da luz, terra tornando um bebedouro.
 
Treme a Prosérpina nas canções,
Da boca sente-se o hálito esperança,
Colhendo nas trevas desilusões.
 
No deus obscuro reina a desconfiança,
Seguindo o claro rosto triste e gasto,
Querendo na Beleza segurança;
 
Esfria, amargurada deusa, o pasto,
Ao gado vagaroso, em movimentos
Convulsos, tornando o vento nefasto;
 
Mas preparando os primeiros rebentos,
De quando retornando a filha amada,
Bálsamo aplica aos rudes pensamentos;
 
Não torna a espera longa, desusada
Fértil, torna a terra tão fecunda,
Vendo-se nos campos representada.
 
E eu, sentindo a terra tão profunda,
Mantenho este calor na minha mente
Soltando em verso um estertor que abunda.
 
Range o céu a boca, treme o dente,
O mulherengo deus, tramando alguma
Vítima dum capricho doente.
 
A isto, Juno tanto se acostuma,
Nem ordenando Argos com seus cem olhos,
Dando à exótica ave a bela pluma.
 
Júpiter carrega seus sobrolhos!
Uma gaivota voa e eu com ela,
Soltando à minha alma gastos ferrolhos,
Vago, olhando o mundo pela janela.

Feridas

Janeiro 09, 2008

Meu triste lago, a culpa transbordando,
De Actéon, espiando Diana nua,
Detendo a lucidez da clara Lua,
Co’ a Terra, olhos turvos, se espantando.
 
Das mãos, a minha adaga escorregando
Desliza na torrente de água pura,
Roncando eternamente como a cura,
Do Mal que adagas vai em mim cravando.
 
Primeiro raio do sol: eu sinto haver,
Crescente Amor, verdade ou natureza,
Fecundo ventre em verde e azul celeste;
 
Que meus pesados olhos possam ter,
A graça, o gosto, a fome, a incerteza,
Do mesmo ardor com que tu me mordeste.

Um Éden

Janeiro 09, 2008

Durante horas seguidas eu passava,
Na contemplação louca e doce, alheia
Ao mundo, no teu corpo de sereia
Meu verde paraíso onde eu entrava.
 
E num langor sedoso eu desfrutava
Prazer, rolando sobre a fina areia
Correndo um rio de sangue em minha veia,
Dos versos que te amando, eu te ofertava.
 
Carícias, são presentes de Natal,
Abraços, jogos entre o Bem e o Mal,
Tudo são pedras que no mar se afundam;
 
Mãos fogos ateiam, lagos agitam
Enterram, tão profundo onde mais gritam
Enigmas, onde amores tanto abundam.

O Náufrago

Janeiro 09, 2008

Na rocha áspera, encosto o rosto e sinto,
Furioso vento, solto da caverna,
Onde o gelado frio me governa,
Onde meu ser é esquartejado e extinto.
 
Percorre-me arrepio de morte. O sangue,
Ferve, quando o rosto me aparece,
A tentação de estar na vida exangue,
Trazendo o Nada que a vida me oferece.
 
Varro meu respeito, meu pensar,
Varro os fartos, gastos pensamentos,
Rasgo meu peito frágil, sentimentos,
A rouca voz, pra onde quer levar.
 
Fantasmas, que me ignoram, que me inquietam,
Que diariamente cravam seus agudos,
Dentes, tornam-se meus gritos mudos,
Espectros que me enervam, me impacientam.
 
Se tombam almas num tão simples gesto,
Porque as minhas mãos gelam-me os meus nervos,
Tornam meus sentidos fracos, servos
Duma vontade onde não estou, não presto.
 
Meus lábios secos como mil desertos,
Abobadado pelo sol de Verão,
Barram meus caminhos sempre incertos,
Por onde à pressa corre a multidão.
 
Nos vales, ecos longos dos malditos,
Que numa aflição louca deixa ver,
Os coruscantes olhos dos alfitos ,
Da salvação em busca, sem a ter.
 
As nuvens se amontoam como a gente,
À espera dum milagre ou profecia,
A voz que extrai do mar a Poesia,
Que o mar concede e o céu a voz consente.
 
Vincados ombros trazem dos seus vícios,
Gigantes como o porte das baleias,
(Qual o lugar que cantam as sereias,
Que lave as feridas dos meus sacrifícios?)
 
Rasga-me o peito em mil. Rasga-me a alma,
Em busca do que quero e não encontro,
O meu poema é longo e não tem ponto,
E não se vê à volta uma vivalma.
 
Meu corpo, porque avanças. Não te espantes,
Se outra vontade houver igual à tua,
Igual a quem padece com a Lua,
Chorando, por já não ser como era antes.
 
Minhas memórias dormem sossegadas,
Mergulham num sono negro profundo,
Eis o que quero: ser pedra, ir ao fundo,
Vê-las como sereias encantadas.
 
Durma antes o destino que acorrenta,
Aprisionando aquele que não vê,
Que é mais do que o verso que não se lê,
Um eco que no vale dorme e assenta.
 
Exaustos olhos, da virtude espelhos,
Reflexos cristalinos, sol ardente,
Incide a valiosa calma ausente
Os olhos de cansaço estão vermelhos.
 
Segui caminho errado. Eu não devia,
Ter ido por ali, por acolá,
Sigam-me então, pra onde quer que vá,
Não tendo por palavra a Profecia.

A Tempestade

Janeiro 07, 2008

Diz-me o que tens! Porque a desgraça adias,
Porque à volta me lanças névoa escura?
Se visses os teus lábios, tu vestias,
Cores do entardecer e da ternura.
Deixas-me a decifrar o que os teus olhos,
Querem dizer, vazios, sem sentido,
Sei quando tu me trancas os ferrolhos,
Deixando ser o teu, Musa, querido.
 
Mas já não basta ver-te andar sem fim?
Não basta! Verte para mim teu fel,
Dá cabo dos meus nervos! Grita em mim,
O que faz a borrasca ao meu batel.
Deixa-me estar completamente nu,
Nimbado pela Lua quando cheia,
Luar enigmático que és tu,
Quando cessa o teu canto, a melopeia.
 
Bem sei. Terei que ser firme rochedo,
Enquanto finges ser o mar revolto,
Deixa-me absorto e vago, olhar do medo,
Quando na alma se tem o medo envolto.
Arrastam-se-me as lentas, gastas horas
Tão certo quanto um rio ultrapassando
A língua de água onde tanto demoras,
E nele, vou lentamente afundando.

A Maldição

Janeiro 03, 2008

Esqueço-me quem sou. Por vezes vejo,
Feroz, o que gostava tanto ver,
Depositar um estrepitoso beijo,
Na linda Lua que não posso ter.
 
Da Holanda filha, túlipa vermelha,
Manchada no seu manto transparente,
Divina me transporta uma centelha,
A tocha empírea que arde lentamente.
 
Meus olhos brilham quais dois diamantes,
Dissipam trevas, se ouço agudos passos,
Ah, nefastos ímpetos constantes,
Plantar meus sonhos num jardim de abraços.
 
Aquela estrela que no céu madruga
Brilhando, até que o deus luzidio acorde
No firmamento, a estrela é posta em fuga,
Quando o primeiro raio de ouro morde.
 
Sorriso cor do sol de Inverno de ouro,
Dourando árvores, flores, rios e montes,
Abrindo os céus, cantando anjos em coro
Revela eternas, frescas, puras fontes.
 
Dardeja setas mágicas do Amor,
Filho da deusa com um vago olhar,
Querendo aliviar cansaço e dor,
Com brindes doces de outro alguém amar.
 
Mas erguem-se as negras asas da Sorte
Que espanta as aves com o manso canto,
Dos céus rainha, águia de grande porte
Que estende aos meus desejos negro manto.
 
Que existe para lá da existência,
Que vento esfria lá do Outro lado,
Que mão tacteia a frágil consciência,
Encontro com a minha alma marcado?
 
Porquê viver a vida em cativeiro,
E nas galés divinas mãos sulcando,
Curvando a espinha ao ser mais verdadeiro,
E numa incerta escolha agoniando?
 
Que pós mágicos estrelas espalham,
Trocistas, coruscando o Amor eterno,
Porque tanto a mente humana baralham,
O homem... longe de ser gentil e terno?
 
Ah bradar aos céus sem que alguém oiça,
Minha louca existência, vagueando,
Num dédalo mental onde não possa
Vadio ser no mundo,  qu'rendo , amando?
 
Que posso mais querer do que isto? Ignoro
Limito-me a subir sempre mais alto,
Mas olho para trás, vejo, pioro,
E, sem pensar, da minha mente, salto.
 
Reside o sofrimento em não querer,
Que houvesse o que não posso nem tocar,
Murmura-me um rio para esquecer,
Dizendo: “Como eu, deves continuar.”
 
“Da Natureza és servo, fiel escrivão
que as vozes misteriosas vão ditando,
Frases, directamente ao coração,
Por onde o mundo inteiro vai entrando.”
 
“Porque escolheste a glória vã, inútil
Mortificando o espírito confuso
Tornou-te a solidão do mundo dúctil,
Inquieto num silêncio atroz, profuso”.
 
Por isto, eu sofro por amar a Beleza,
Verdade oculta em trapos andrajosos,
Divina voz da sacra Natureza
De enigmas, de mistérios curiosos.
 
Assim como quem vê o que não pode,
Ter, com gesto brusco e imprudente
O jugo interior a mão sacode
Tornando a vida farta inconsequente.
 
Contemplo num maldito e vergonhoso,
Segredo, como ser filho bastardo,
Sento-me na montanha, pesaroso.
Ó meu anjo, como por dentro eu ardo!
 
Ardo, num funesto fogo. Alcanço,
A doce beatitude se meus olhos,
Se fixam como promontórios. Danço
Com as nereidas por entre os escolhos.
 
Já Basta! Meu olhar fluido e mudo
Explode em mil fragmentos esta imagem,
Selvagem, deleitosa, onde me iludo
Falando-me na erótica linguagem.
 
Pelo meu corpo se propaga a força,
Das marítimas ondas, revolvendo
Meus prantos copiosos. E reforça,
Toda a minha dor em dor devolvendo.
 
A minha dor é nada. Eu temo o dano,
Estático, soturno, permanente,
Tornou-se o meu Amor o meu engano,
Plantada ilusão no jardim da mente.
 
Riem-se estátuas mórbidas. As trevas
Frenéticas, procuram os meus braços,
Da infernal deusa Alecto elas são servas,
Pedras que me acompanham os meus passos.
 
Move-te, flor deste encanto ignaro,
Devolve-me este azul do céu macio,
Encosta o doce seio, o meu amparo,
Empresta-me calor! Tremo de frio!
 
Porque vivo em constante pensamento,
Eu vivo padecendo neste Inverno
Funestas ânsias trazem-me tormento,
Vivo lançando-me às chamas do Inferno.
 
Venha o deus Pã nbsp;soprar divina flauta
De timbre aveludado, e mande embora,
Levando notas tristes desta pauta,
Escritas num instante em negra hora.
 
E que meu Amor puro e verdadeiro,
Possa muralha longa e forte ser,
Podendo o meu momento derradeiro,
Falar do que mais não posso esconder. 
 
Sê bela, orquídea oferecida e brava,
Aberta como as portas do que tenta,
Só para meu olhar que no teu crava,
Um fardo que meu corpo não aguenta.
 

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