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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

Pinturas

Novembro 13, 2007

Os rios secam, movem-se montanhas,
De escuro, o céu se veste, e se ensurdece,
Quando a luz do teu rosto desaparece,
Ficando eu só, à espera então que venhas.
 
Violentamente, arde-me as entranhas,
Toda a escassa virtude se empobrece.
A ver se o sol no teu rosto aparece,
Rasgando em mil pedaços tuas manhas.
 
Se eu fosse um deus, ao reino de açafrão
Da Aurora, quando nasce de manhã,
Iria, medigando seu esplendor.
 
Tingindo as mãos, a tez, meu coração
Eu me aspergia, à espera que amanhã
Trouxesses no teu rosto uma outra cor.

À Liberdade

Novembro 13, 2007

Quantas folhas tem um choupo,
Quantas gotas tem um rio,
Quantas lágrimas deitaste,
No meu corpo fraco e frio?
Quantos versos derramaste,
Me deitando no macio,
Róseo, dedo aveludado,
Ninho morno, doce estio?
 
Quantos livros eu já li,
Quantas bocas já provei,
Quantas horas já vivi
Sem ter fim? Nunca aceitei,
O dom que tu me deste,
Banhar-me nas turvas águas,
Num sonho me apareceste,
Devorando as minhas mágoas.
 
Quantos ventos me trouxeram,
Do jardins o teu perfume,
Onde as flores retiveram,
Meu lamento, meu queixume?
Meu tormento, esta ansiedade
Minha imagem, meu costume,
Por ti tenho, ó Liberdade,
Ódio, Medo, Amor, ciúme...

O amor banal

Novembro 09, 2007

Perguntas se meus olhos nos teus param,
Brilhando mais que estrelas, noites frias,
Ante os teus olhos claros, tu dizias,
Que nunca os meus nos teus tempo ficaram.
 
E olhares verdadeiros sublimaram,
Venceram medos, ânsias, vagos dias,
Diz-me antes se por ventura sentias,
Se te cantasse o que outros não cantaram.
 
Aquele Amor banal que se propaga,
Pelo mundo inteiro, eu não procuro,
E assim, meus versos fluem sem desculpa
 
Por uma dança lânguida se apaga,
O verdadeiro amor que sinto e apuro
Na minha amada sem medo, sem culpa.

Manhã de Outono

Novembro 08, 2007

Pardal que passa voando,
Em ondas, voando contente,
É mão bondosa, afagando,
O peso que tenho na mente,
Pardal que passa voando,
voando, passando contente.
 
Sombra na húmida terra,
Poeira cativa no chão,
Lírio tão casto me encerra,
Na alma, qual branda oração,
Sombra na húmida terra,
Lança-te sobre a solidão.
 
Folha de Outono que cai,
Nas húmidas ervas tão verdes,
Fulva cor que sobressai,
O tempo que, Vida, concedes,
Folha de Outono que cai,
Horas trepando paredes.
 
Musgo, dizendo-me o Norte,
Na árvore cresce viçoso,
Entrego-me ao Tempo, na Sorte,
Neste Inverno rigoroso,
Musgo dizendo-me o Norte,
Olhando-me só, langoroso

Raízes

Novembro 07, 2007

Abertos braços choram, Beleza etérea,
Árvore abrindo os ramos secos, firmes
Cristais adormecidos volvem cores,
Diáfanos dum Sol me recolhendo.
Liberam-me sereias, brancos cirros,
Na minha mente longe do azul meigo,
Suave e brando, arroio fresco e puro,
Serpenteando vivo o verde vale.
Mostra-me, algoz do meu destino incerto
Onde me escondo, elevo ao que não penso
Transcende delicado verso vindo,
Da boca perfumada d’ ouro Invisível.
Percorre-me na sombra: almejo ver
Perdidas nas cidades minhas pérolas,
Líquidos olhos, brilho de poetas.
Seráfico rosto ascende porque é torpe,
Na humana via, atende a quem não pode,
Recolhe prantos, flores, sois nascentes,
De reluzente espelho, coruscante,
Qual estrela guia a forma do meu ser,
Dançando entre os espectros que não vejo,
À espera que desperte quando acordo,
O grito ouvindo da celeste Aurora.
Cândida, benevolente, um anjo,
Tem tua, Musa, a rara Natureza,
Raízes em ti crescem tão viçosas,
Quais limos verdes num mar tão profundo.
Meus olhos baços, carregando a vida,
Prostram-se ao viver segundo a ideia,
Que tudo acaba, enfim, e continua,
Nem verso, na proscrita melodia.
Acende-me a lanterna azul cá dentro,
Ergue-me um Templo em mim, onde eu me possa,
Marcar comigo encontro, na vontade,
De ver-me heróico, ter-me, amar-me... e olhar-me,
Preço não deve ter saber julgar-me,
Sentido o peso, a forma da minha alma,
Na oposta margem do que tanto inspira,
E florescendo em mil formas de vida,
Renasce brilho agudo do que sou...

Despertares

Novembro 06, 2007

Porque tantos versos tenho,
Pra ordenar, talhar e ver,
Olhos cavados de estranho?
Não tenho e não tento ter,
Nem mirrada flor apanho,
Ou tenho pra oferecer.
 
«Em frente!», vai me ordenando,
Meu rochoso coração
Que me encontro protestando,
Contra o meu próprio perdão,
Nunca, nunca, me agarrando,
À mão duma salvação.
 
Salvar-me, não pretendo,
Porque hei-de eu pensar em nada?
Diz-me a voz que não entendo:
«Armou-te a Vida emboscada»
Sou folha que, esmorecendo,
Cai no chão resignada.
 
E que pra longe me leve
Zéfiros primaveris,
Cai dentro de mim a neve,
Branca, e lembro o que não fiz.
Dos heróis, alguém se atreve,
A fazer o que se diz?

A Eterna Dança

Novembro 06, 2007

A cobra se enroscava,

Naquele tronco macio,
Desliza facilmente,
Naquele sacro tronco. Ela subiu
Pérfida, se apoucava,
Dela vil beleza, e a sua,
No espelho de água se olha e sente frio,
Percorrer-lhe na pele de água, nua,
Naquela humana e rósea cor que viu.
 
A ninfa se isolava
Rosa entre as rosas
Numa clareira inerte
No paraíso onde ela passeava,
Colhendo tão radiante flores mimosas.
Curiosa, se curvava,
Salientes partes tomam graça e dava,
O mármore de musas caprichosas,
Que nela, a cobra horrenda olhar fixava.
 
Razão de ouro lhe cobre a negra boca,
De quem atroz rasteja, por paixão,
Do Caos se erguendo, O desejando, louca,
Correndo um rio de sangue sem razão.

A Ira de Juno

Novembro 05, 2007

As flores desconfiam,
Do sol que as enriquece,
No estranho Outono que nos embeleza,
As árvores ardiam
A terra empalidece,
Revolta tão funesta, a Natureza.
 
Um fogo esquivo, o vento
(Alecto ali andava
Línguas de fogo lambem nuvens de aço,
Alastra em pensamento,
Deusa Juno ordenava,
Lançar ao deus mulherengo embaraço.
 
Ruborizando Apolo,
Corando-o, enternecendo-o,
Tímido, andava pois do deus sabia,
Enegrecia o solo,
Nas nuvens desaparecendo,
Temor lançava às Musas da Poesia.
 
Ó Juno, ignora. E trata,
Vencer interior chama,
Vê o que plantaste com teu ciúme,
A tua dor nos mata,
Frágil Homem reclama,
Eternas fontes que extingam teu lume

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